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DO BLOG DE JOHN NESCHLING - E agora, OSB ?

Iniciado por Dalll, 01 Abril 2011 às 15:06:52

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Dalll

DO BLOG DE JOHN NESCHLING
http://semibreves.wordpress.com/2011/03/31/e-agora-osb/


E agora, OSB ?

Publicado em 31/03/2011 por semibreves

Parece que o impasse em que se
encontravam os músicos e a direção artística e administrativa da Orquestra
Sinfônica Brasileira chegou ao seu ápice: mais de quarenta músicos do grupo
estão sendo demitidos, alegada a justa causa pela administração, por não terem
se apresentado às audições de avaliação programadas por seu diretor artístico.
Não há dúvida de que a forma com que a direção da orquestra lidou com todo o
processo foi truculenta, arbitrária e socialmente injusta. Não há como camuflar
a má fé embutida em audições anunciadas durante as férias dos músicos. Não há
como esconder a intenção de demitir, quando se adverte que o não comparecimento
às provas será encarado como indisciplina grave, e as audições e os métodos de
avaliação não foram objeto de discussão com os músicos e sua comissão.
Não há como justificar humanamente a demissão sumária de músicos que fazem
parte da orquestra há 20 ou 30 anos e que evidentemente não estão no auge de
suas formas. Enfim, o processo revestiu-se de injustiça, prepotência e falta de
habilidade desde o seu início até o seu desfecho lamentável. Já escrevi, em
vários posts desse blog, a minha opinião sobre a forma com que se encaminhou
todo esse imbroglio. Também já refutei energicamente, embora se insista em
fazê-lo, a exemplo do que afirmou Roberto Minczuk no jornal "O Globo",  a
comparação entre o processo de reavaliação pelo qual passou a OSESP, quando de
minha chegada para reestruturá-la e as audições organizadas pela OSB.  Não
posso aceitar que se use o processo pelo qual passou a OSESP em 1997 como
desculpa ou justificativa para o trauma e o desarme que se se está fazendo
agora na OSB.

Porque é disso que estamos falando: de
um desarme, da destruição consciente e voluntária de uma orquestra que existe
há 70 anos, que sobreviveu a tempos de vacas magras e que brilhou em tempos de
glória, mas que jamais foi apunhalada da forma como a estão apunhalando. A OSB
como a conhecemos todos os cariocas e brasileiros há décadas, acabou, foi
desmantelada, não existe mais. Nunca imaginei que o "bon mot" que cunhei em
outro post ao dizer que em vez de trocar de regente a administração resolveu trocar
de orquestra pudesse corresponder exatamente à realidade. Seria cômico se não
fosse trágico, pois quem perpetra tal desgoverno é justamente o filho de um dos
músicos que criou a aura dessa orquestra. A imprensa, no afã de tentar entender
ou explicar o ineditismo da situação, procura paralelos seja em orquestras
brasileiras (todas elas vítimas de nossa extrema precariedade ou grupos criados
a partir do zero nos últimos anos), seja em grandes orquestras mundiais. Essas,
devido às suas estruturas centenárias e às suas qualidades intrínsecas
indiscutíveis não servem para comparação com qualquer orquestra brasileira, da
OSESP  à Lira São Joanense. No Brasil, a Orquestra Filarmônica de Minas
Gerais está engatinhando, a OSESP acabou de entrar na sua adolescência. As
Filarmônicas de Berlim, Nova Iorque e Israel certamente não necessitam de
qualquer exame de reavaliação, que, estrutrado de forma diferente e organizado
de forma mais respeitosa, poderia, sim, ajudar a OSB a dar um salto de
qualidade ao qual, em sã consciência, nenhum músico se oporia.

A Orquestra Sinfônica Brasileira é uma
instituição privada, cujos empregados são regidos pelo regime da CLT. Esse
regime prevê a possibilidade de demissão, seja por justa causa, seja
indenizando-se os demitidos com o pagamento de todos os direitos previstos na
lei. O programa de demissão voluntária, embora me pareça perverso no âmbito
humano da OSB, é uma alternativa prevista em lei e se não foi levado em
consideração pelos músicos da orquestra, é porque toda a situação lhes parecia
injusta e mal encaminhada. Aos músicos demitidos cabe a partir de agora a briga
na justiça,  que decidirá se as demissões são justas ou não e a
administração da orquestra terá que respeitar a sentença que o juiz proferir.
As consequências poderão ou não pesar muito no orçamento da orquestra.

O que não está no âmbito das decisões
judiciais é o prejuízo dificilmente mensurável que tal crise trará para o
futuro da orquestra. Um dos principais patrocinadores da OSB é o BNDES. A letra
S no nome do banco significa a preocupação social  da empresa. Terá o
banco interesse em continuar a patrocinar uma orquestra que vilipendia de tal
forma seus empregados? Que demite de forma tão violenta metade de seu corpo
artístico? Qual a empresa, privada ou estatal, que deseja unir seu nome a uma
instituição que passa uma imagem de truculência, violência e maus tratos? Será
que esse comportamento discutível, para sermos modestos, foi debatido com
antecedência com a Prefeitura, um dos grandes mantenedores da orquestra? Essas
questões cruciais para a sobrevivência da instituição terão de ter passado pela
cabeça de seus administradores, todos versados em economia e nas regras do
mercado, sob o risco de serem julgados como irresponsáveis e incompetentes. Uma
orquestra não é um banco de investimentos, não é uma fábrica nem uma empresa
comercial. Certamente não será necessário que se explique aqui outra vez as
peculiaridades e as sensibilidades especiais de uma orquestra sinfônica. O
risco que se incorreu ao deixar que essa situação de extrema tensão
transbordasse e viesse a público com a violência com que veio, com sua
exposição internacional gravíssima e inédita, coloca todos os responsáveis pela
instituição, aí incluido o seu diretor musical, na berlinda e os obriga a explicações
claras e transparentes. A culpa que lhes pesará nos ombros, caso
sobrevenha a destruição de um dos ícones de nossa cultura não é coisa fácil de
expiar.

Cabe, no entanto, uma reflexão sobre o
futuro da orquestra, caso se consiga, mal ou bem, ultrapassar o trauma
gravíssimo que se inflingiu ao seu corpo musical. Do ponto de vista meramente
artístico é de se duvidar da possibilidade do maestro continuar a liderar, por
ora, um grupo composto de músicos em sua maioria amedrontados, humilhados,
indignados e na defensiva. Que muito provavelmente, com ou sem razão, se
sentirão culpados pela situação precária na qual se encontrarão seus colegas
demitidos e que serão condenados, por parte destes, a um isolamento destrutivo
para sua auto estima. Um maestro que se verá na contingência de apresentar
resultados qualitativos a curto prazo a um público desconfiado. Um maestro que
terá de lutar pela sua reabilitação no conceito de toda uma classe
profissional,  que se opôs frontalmente à sua atitude, não só no Brasil
como no exterior. Inúmeros músicos, sindicatos e orquestras do exterior se
manifestaram, de forma clara e incisiva, contra o processo instaurado na
orquestra carioca. Sua carreira está em risco. Seu nome está em jogo. Não será
fácil trabalhar nessas circunstâncias. Terá à sua frente uma orquestra em
pedaços e incompleta. Será necessário completar, e com urgência, os quadros do
conjunto. Quais os músicos brasileiros de qualidade que se apresentarão aos
concursos de admissão após os acontecimentos do passado recente? Qual a
garantia que receberão de respeito e segurança no trabalho? Onde encontrar os
músicos estrangeiros com a qualidade necessária para preencher as dezenas de
vagas abertas pelas demissões? Não se admite que se tragam ao Brasil músicos de
qualidade mediana após o escândalo do afastamento de tantos músicos
competentes. Estes são  alguns dos problemas que terão de ser enfrentados,
e com urgência, pelo diretor artístico da OSB.

Há, no entanto, e não menos grave, o
problema econômico a ser enfrentado pela Fundação OSB. Foi dito reiteradas
vezes tanto pelo presidente do Conselho quanto pelo diretor artístico que os
salários a serem oferecidos àqueles que passarem pelas audições, e naturalmente
aos novos músicos da orquestra, serão comparáveis ou mesmo superiores àqueles
que são pagos atualmente pela OSESP.  Não estou mais informado extamente
dos salários da orquestra paulista mas imagino que estes, devidamente
reajustados, devem estar beirando os 10.000 reais para um músico de fila. Um
contrato de 10.000 reais pela CLT custa ao empregador por volta de 17.000 reais
por mês. Mas não esqueçamos que os "spallas" (e são dois) da orquestra ganham
por volta de 18.000 (o que para o empregador não sai por menos de 30.000
mensais) e que os solistas dos diversos naipes recebem por volta de 12 a 13.000
reais mensais (não menos de 20.000 reais mensais para o empregador). Qual a
garantia que a OSB tem de que terá à disposição um orçamento anual que cubra
esses enormes custos de pessoal? Nunca houve transparência nas informações do
"status" financeiro da Fundação. Nunca foi publicado um relatório de atividades
econômicas da OSB. Nunca se soube ao certo quanto dinheiro foi arrecadado pelo
seu departamento de marketing, nem como esse dinheiro foi utilizado ou em que foi
aplicado. Todas as informações que circularam e circulam até hoje sobre o
orçamento, a verba arrecadada e a administração financeira da Fundação são
obscuras e aproximadas. Quem garante que a OSB terá os meios suficientes para a
sobrevivência a longo ou ao menos a médio prazo das suas atividades?  De
onde virão esses recursos? Como se arriscar a trazer 40 músicos novos nessa
realidade nebulosa? É urgentemente necessário que o Conselho da Fundação venha
a público com essas informações de forma clara e transparente para que o
processo traumático a que obrigam a orquestra a passar tenha um mínimo de
credibilidade. Como será a estrutura administrativa da orquestra num futuro
como o que está sendo anunciado? Continuaremos a ter uma OSB com sua estrutura
administrativa antiquada e desconhecida do público? Será que essa grande
renovação que se proclama ficará restrita aos músicos? Isso faria com que as
injustiças cometidas contra os profissionais da orquestra fossem ainda
mais graves.

Enfim, perguntas e mais perguntas,
dúvidas em cima de dúvidas. Há, finalmente, uma outra perspectiva de análise
para essa questão: e se tudo for  pelo melhor? Nossa realidade econômica,
como já comentei diversas vezes, é favorável a investimentos a longo prazo. Não
houve, há décadas, momento mais propício do que esse para a criação de outra
OSESP, dessa vez no Rio de Janeiro. E se a OSB se transformasse, num passe de
mágica administrativa e artística, numa segunda grande orquestra internacional
no Brasil?  Isso  viria confirmar o momento de euforia que vivemos no
País e nos colocaria de vez no mapa dos países sinfônicamente importantes. No
quadro atual, é difícil ter esperança. Se essa hipótese se confirmar, viveremos
o luto do processo traumático, continuaremos a pugnar pelo respeito e pela
dignidade de nossos músicos, mas algum resultado positivo terá advindo desse
tsunami que assolou nossa orquestra.

Caso contrário, o crime terá sido
capital, e não terá perdão.

Alberto Ferreira

Salve!

Pois é...
Eu espero que prevaleçam o bom senso e a moderação, sem "extremismos", de ambas as partes.

O nosso (tão "carente") ambiente musical erudito não pode permitir esse tipo de coisa.  :'(

Abraços a todos,
Alberto

Julio Celes

Li hoje no O Globo online que o pianista Nelson Freire cancelou todas as apresentações com a OSB.

Espero que entrem em acordo logo.

Grande abraço a todos

julio Celes

Dalll

E continua....


Orquestra Sinfônica Brasileira oferece trégua a 32 músicos demitidos

Músicos se insurgiram contra o processo seletivo idealizado pelo diretor artistico e maestro Roberto Minczuck

A crise na Orquestra Sinfônica Brasileira teve uma reviravolta: uma semana depois de iniciar o processo de demissão de 32 músicos que se insurgiram contra uma avaliação de desempenho imposta para a manutenção de seus empregos idealizada pelo maestro Roberto Minczuck, o presidente da Fundação OSB, Eleazar de Carvalho Filho, recuou e enviou a cada um uma carta chamando-os a "salvar uma grande instituição".

Em tom conciliador e informal, ele se disse angustiado com a situação e afirmou "ter sido levado" a demiti-los. Na carta, Carvalho Filho não faz menção ao diretor artístico da orquestra, Minczuck. "Não existem vencedores", fala a carta do presidente, que termina convidando o músico para uma "conversa construtiva" com ele e com o conselheiro David Zylbersztajn.

O tratamento dispensado pela FOSB aos músicos já levou artistas como o pianista Nelson Freire e a bailarina Ana Botafogo a cancelarem participações em concertos. O Conselho Nacional de Políticas Culturais, do Ministério da Cultura, em reunião ontem, apresentou moção de repúdio à posição da FOSB.

(Com Agência Estado)