Essa discussão toda me trouxe uma questão, que já foi dirigida a mim, e respondi na época, agora faço o inverso. Luís, quanto acha que um relojoeiro deveria cobrar na revisão de um Omega 30 T2? Vou além. Quanto esse mesmo relojoeiro deveria cobrar em uma revisão de um Rolex, agora não um vintage, mas meu Milgauss GV comprado há menos de um ano, modelo 2010? Lembro a todos que provavelmente o relojoeiro gastará mais tempo revisando o Omega antigo do que o GV...Retomando o exemplo de autorizadas de carro, te cobram por hora.
O grande problema em se ter vários relógios mecânicos - e foi por isso que um dos que aqui atuam como moderador encheu um pouco o saco do troço e passou a vender seus relógios, algo que, do mesmo modo, fez o outrora famoso Walt Odets, que escrevia para o TZ e hoje tem apenas 3 relógios - é que os troços começam a dar problema e, lá pelas tantas, se não for por algo sentimental, simplesmente não vale a pena revisá-lo. Meu pai, por exemplo, usa um Seiko Militar que dei para ele há anos. Quando precisar revisar, irei fazê-lo, mas mesmo pedindo aos meus colegas relojoeiros de BH um desconto "na fé", não sairá por menos de 150 paus (com o polimento do cristal). Numa autorizada sairia por uns 400, 500 reais. Tanto numa quanto noutra, não valeria a pena, do ponto de vista estritamente financeiro, já que esse relógio em particular me custou uns 200 contos na época!
Ou seja, existem basicamente alguns problemas na relojoaria pós venda nos dias atuais:
- Uma política simplesmente imbecil iniciada pela Rolex, que passou a só fornecer peças para sua autorizada. Resumo da história: por melhor que seja o relojoeiro não autorizado, se algo der errado na revisão, você fica na mão. Essa prática pode ser normal no resto do mundo, aqui é abusiva, só não chegou às barras de algum tribunal porque não encontraram a pessoa certa para encrencar. Há leading case, citado por mim há muito tempo, envolvendo a Xerox, que tinha o monopólio da assistência técnica e, lá pelas tantas, cobrava o que bem entendia nas suas revisões;
- Por vias transversas, isso criou um "gap" enorme entre o relojoeiro que trabalha para autorizadas e os que não. A relojoaria mecânica evoluiu, estamos precisando de profissionais, mas, por outro lado, não existem mais escolas no Brasil e, em grande parte do mundo! Afinal, as fábricas tem interesse no mercado de relojoeiros pós venda, mas para eles.
No final das contas, o que conta é o trabalho envolvido. Quanto vale o show, como já disse aqui? Sei lá. Não tenho planilhas de custos para definir se vale ou não.
Gostaria, porém, de ver as seguiintes coisas:
- Possibilidade de escolha pelo cliente, o que hoje é inexistente, pois você até pode mandar o relógio ser revisado no relojoeiro de confiança, mas quando algo der errado, não haverá a loja de peças de carros para comprar a sobressalente. Antigamente havia fornitura, as fábricas vendiam peças para todos. Não mais.
- Vejo que não há uma preocupação das fábricas com o pós venda de relógios novos. No livro Time to Change, por exemplo, os autores sugerem, como na indústria automobilística, que a primeira revisão do relógio fosse gratuita, para incutir no comprador a boa imagem da marca e, também, a necessidade de correta manutenção. Isso também não é feito.
- Gostaria de preços de revisões fixos, baseados na complexidade do serviço, como, aliás, várias marcas já tem feito (ex Breitling, Vacheron, etc). Eles não querem saber quanto custa o relógio, se 100 mil dólares ou 100 reais. O trabalho que o cara vai ter para revisar um crono, estando ambos em ordem, é o mesmo. Sim, coitados daqueles que possuem relógios mais baratos. O custo poderia ser reduzido? Não sei, não estou no ramo para discutir custos.
Mas no final das contas, manter um conjunto de relógios não tão grande, como, por exemplo, o meu (tenho uns 10 relógios que "prestam" e são novos), não sai barato, isso é fato...
Flávio