Essa resposta deveria ser curta e postada num tópico no qual essa discussão surgiu, abordando o SIHH. Lá pelas tantas escrevi demais no embalo e resolvi abrir outro tópico...
Inicialmente, lanço mais uma vez aquele texto que traduzi no longínquo ano de 2000 sobre o assunto. Minha posição prevalece.
http://www.relogiosmecanicos.com.br/ebauche.html
1) Essa história de feito em casa como símbolo de exclusividade e autenticidade mecânica é uma falácia criada no pós quebradeira de quartzo para dar legitimidade às fábricas, como se umas fossem melhores do que as outras. E digo isso porque a produção totalmente integrada pela indústria suíça nunca existiu de forma total, desde os primórdios. Aliás, o segredo do sucesso dos suíços é justamente a divisão de trabalho entre pequenos workshops, que podiam (e podem) se adaptar muito mais rapidamente às mudanças do mercado. Essa história de fábricas integradas surgiu, de uma forma simplista, com a Zenith e Longines no início do século XX, visando copiar o sistema americano de produção de peças completamente compatíveis entre si. Mas o sistema de divisão de trabalho deles nunca foi totalmente jogado por terra, mesmo na época mais verticalizada da indústria, até mesmo pela formação dos cartéis. Na indústria suíça, e até hoje, existe um "cada macaco no seu galho" fodido, e empresas que fazem mostradores, ponteiros, etc, acabam não se misturando àqueles que fabricam movimento e esses, até isso, aos de escapamentos.
Sobre a indústria, meu texto:
http://www.relogiosmecanicos.com.br/la%20chaux%20de%20fonds.html
2) O fato de um mecanismo ser feito em casa não garante que este movimento seja melhor do que outro feito por um "especialista". E não precisa ir longe... O ETA 2824 está aí há décadas, com algumas modificações DEU UM PAU em todos na última competição de cronômetros do observatório de Besançon e está para nascer alguém que consiga projetar algo igual, com a mesma confiabilidade, sem dar com os burros n´água. A única coisa que um movimento feito em casa traz, e isso é bacana, é "cor" ao hobby. Afinal, é uma experiência nova, e isso é bacana.
3) Há ETAs e ETAs. A ETA fabrica seus mesmos ebauches em 4 categorias. O ebauche, ou seja, platinas e rodagem pode até ser a mesma coisa, mas o escapamento e molas, etc, quanta diferença. E entre o mais simples e o mais caro a diferença pode chegar ao triplo do preço! Uma 7750 normalzona custa uns 350 dólares, enquanto a certificada como cronômetro, o Adriano pode confirmar isso, bate no dobro!
E a Breitling, citada acima, usa só cronômetros na sua configuração. Mas... Há fábricas, fazendo comparações estritamente técnicas, que oferecem a mesma coisa por menos. Exemplo? Tenho um Sinn 556 com uma ETA 2824 top (uma abaixo da cronômetro, mas o movimento é o mesmo, apenas não certificado), que custa 1000 euros na gringa. Um Breitling com a mesma categoria de movimento (e, para dizer a verdade, prefiro até mesmo a decoração da Sinn a da Breitling que, diga-se, NÃO É EXCLUSIVA, mas a padrão de cronômetro da ETA, apenas com um escrito Breitling estampado no rotor) não sai por menos de 3 mil. E aí? E aí que não é só isso que define preço, mas confesso que pondero essas coisas ao comprar um relógio.
Vejam, não estou dizendo que o MOVIMENTO que o relógio usa seja fundamental na minha decisão, mas ao comparar relógios similares NA TÉCNICA, se alguém estiver com um ponto MUITO FORA DA CURVA (vejam, isso é importante, EU DISSE MUITO!), é capaz de eu abortar a "missão".
4) Falando especificamente da Omega vs Breitling, eu confesso que sempre preferi, mesmo na época dos 1120, os movimento daquela. É que o 2892 da Omega não é um 2892 apenas modificado esteticamente. Ok, há alguns, entres os quais me incluo, que preferem o 2824 ao 2892. O problema é que os 2892 da Omega, na sua conformação 1120, tinham acabamento decorativo exclusivo, dois rubis a mais no tambor e um sistema de cliqués e rolamentos do rotor COMPLETAMENTE DIFERENTE DOS originais, eliminando ou pelo menos quase eliminando O MALDITO pau por engrossamento de lubrificante clássico dos 2892 padrão. Aliás, é um mistério porque a ETA não adotou esse sistema aprimorado da Omega.
Depois, e já vai um tempo, adotaram neste movimento o escapamento Coaxial que, pelo menos na teoria, é melhor do que o de âncora, conquanto MUITO mais complexo. Porém, volto a tal "cor" que disse acima. Os 2892 da Omega, sem entrar no mérito se melhores ou piores que um 2824 da Breitling, ofereciam coisas singulares no mercado.
Mas no final das contas, concluindo, eu só não quero ser enganado. A marca usa um 7750 não modificado no seu interior? Que diga isso. O problema é falar que usa um 8934 Tabajarator Mega Zord, cobrar caro por isso e, quando se analisa o troço... Um 7750 padrão.
Flávio
Bom, lendo teu texto, Flávio, ele só baliza minha concepção do in-house: projetado e manufaturado do Zero. Pegar um calibre X, modificar, seja suprindo um defeito ou melhorando uma característica qualquer é modificação, tão somente. Tenho um calibre que tem base em outro, renomeado - mesmo no caso do 2892 da Omega, não deixa de ser mera modificação a meu ver.
A grosso modo, comparo os calibres modificados com um Rolex Bamford. Não deixa de ser rolex. Mas é modificado para parecer como os caras da Bamford acham que um rolex deve ser. Se gostam ou não é outro papo, mas no fim é quase o mesmo.
É por isso que, no passado, havia os fabricantes de EBAUCHES (platina e rodagem sem acabamento) e os de movimentos, que acoplavam escapamentos de especialistas aos ebauches, além do acabamento funcional e estético.
Essa diferenciação ebauche vs movimento continuou, conquanto terminologicamente incorreta, como ressaltei acima. Hoje, costuma-se referir ao ebauche como "movimento base", ou seja, aquele movimento totalmente funcional que poderia, inclusive, ser colocado num relógio e posto para funcionar, dos modificados, aos quais se "autoriza" a substituição do número dado, se a fábrica introduziu alterações.
Mas vejam, e por isso ressalto que a posição do texto que traduzi em 2000 prevalece, há modificações e modificações. Eu sempre direciono as pessoas à foto daquele que, em um momento histórico, foi o movimento de relógio de pulso mais complexo em fabricação, o Il Destriero, que está na página inicial do site mãe.
Acreditem, mas aquilo é um ebauche 7750! Acreditem se quiser! Toda rodagem, platina inferior e sistema de cronógrafo é do 7750. Porém, a IWC alterou de tal modo o troço que sequer podemos ver, mesmo o mais treinado dos olhos, que aquilo foi um 7750 algum dia.
A comparação com motores de carro é sempre salutar, e vou colocar aqui uma absurda, outra nem tanto. Vocês sabiam que o bloco dos absurdos motores BMW da era F1 turbo era de BMWs M10 da década de 60? Pior: USADOS! Esse motores de 1.5 litros produziam 80 cv e eram usados em carros de rua mas, modificados décadas mais tarde, chegaram a produzir 1500 cv! Esses motores, fazendo uma comparação tosca, são os congêneres do 7750 e Il Destriero, ou seja, modificados extensivamente.
Peguemos, não exagerando tanto, os motores da série 3 e das M3. Os blocos também são os mesmos. Aliás, não só blocos, no caso da M, as modificações não são tão extensivas assim, provavelmente chegam a bielas, turbos, etc. O normal, aí, poderia ser um 2892 padrão. Os M, os 1120.
Flávio
Citação de: flavio online 19 Janeiro 2016 às 16:35:20
É por isso que, no passado, havia os fabricantes de EBAUCHES (platina e rodagem sem acabamento) e os de movimentos, que acoplavam escapamentos de especialistas aos ebauches, além do acabamento funcional e estético.
Essa diferenciação ebauche vs movimento continuou, conquanto terminologicamente incorreta, como ressaltei acima. Hoje, costuma-se referir ao ebauche como "movimento base", ou seja, aquele movimento totalmente funcional que poderia, inclusive, ser colocado num relógio e posto para funcionar, dos modificados, aos quais se "autoriza" a substituição do número dado, se a fábrica introduziu alterações.
Mas vejam, e por isso ressalto que a posição do texto que traduzi em 2000 prevalece, há modificações e modificações. Eu sempre direciono as pessoas à foto daquele que, em um momento histórico, foi o movimento de relógio de pulso mais complexo em fabricação, o Il Destriero, que está na página inicial do site mãe.
Acreditem, mas aquilo é um ebauche 7750! Acreditem se quiser! Toda rodagem, platina inferior e sistema de cronógrafo é do 7750. Porém, a IWC alterou de tal modo o troço que sequer podemos ver, mesmo o mais treinado dos olhos, que aquilo foi um 7750 algum dia.
A comparação com motores de carro é sempre salutar, e vou colocar aqui uma absurda, outra nem tanto. Vocês sabiam que o bloco dos absurdos motores BMW da era F1 turbo era de BMWs M10 da década de 60? Pior: USADOS! Esse motores de 1.5 litros produziam 80 cv e eram usados em carros de rua mas, modificados décadas mais tarde, chegaram a produzir 1500 cv! Esses motores, fazendo uma comparação tosca, são os congêneres do 7750 e Il Destriero, ou seja, modificados extensivamente.
Peguemos, não exagerando tanto, os motores da série 3 e das M3. Os blocos também são os mesmos. Aliás, não só blocos, no caso da M, as modificações não são tão extensivas assim, provavelmente chegam a bielas, turbos, etc. O normal, aí, poderia ser um 2892 padrão. Os M, os 1120.
Flávio
Boa! Muito justa a sua comparação.
Não compensa as relojoarias projetarem um mecanismo do zero, muitas fábricas automotivas
pegam o que está na prateleira, modificam e lançam o motor.
O mesmo vale para o mecanismo de relógios in house.
E Flávio obrigado pelos links, vou estudar com calma e adquirir conhecimentos.
Muito bacana o texto, obrigado por compartilhar. Opinei hoje sobre os novos Oversears que vieram com mov. in-house e que possivelmente vão cobrar mais caro por isso. Concordo com tudo que você disse, pelo pouco que entendo o movimento de casa não quer dizer que é melhor, mas é invariavelmente mais caro, por isso deve-se analisar muito bem a relação de custo e beneficio apresentada (como você disse, se a tecnica não for MUITO FORA DA CURVA, não justifica o preço ser!).
Flávio ,concordo com tuas posições. Acho importante o debate sobre esse tema até para mostrar que a idéia de que por ser "in house " é melhor , não é verdadeira !!!
Abs.
Bom, concordo com o que foi apontado pelos colegas.
Maaaaaaaassss, o que tenho observado, é que cada vez mais as grandes casas procuram desenvolver seus calibres inhouse, e na grande maioria dos casos eles apresentam realmente grandes melhorais se comparados aos modelos básicos em linha dentro da própria marca, que utilizam muitas vezes Sellita ou ETA. Ou seja, as marcas tem a preocupação em agregar algo sempre, para não parecer que apenas encareceram o produto como os comentários acima fazem acreditar.
O que quero dizer então é que, ser inhouse não é garantia de nada, mas o posicionamento atual do mercado nos mostra, que as grandes casas tem o intuito de posicionar estes como algo melhor e mais exclusivo, e por isso mesmo fazem questão de oferecer algo a mais junto, como por exemplo, uma reserva de marcha que vai muito além dos 2 dias que estamos tão acostumados a ver.
Isso é verdade. O único problema nessa equação é o teste do tempo... Concordo que na teoria as marcas tem sim, com o intuito de efetivamente diferenciarem se umas das outras, apresentado movimentos com vantagens teóricas aos anteriores. Mas por enquanto há muita teoria sendo levantada como argumento de superioridade. A omega, para citar uma major, fez isso. E seus 2500 série a deram um monte de defeitos por idiossincrasias de projeto só corrigidas nas versões posteriores. Portanto, às vezes o bom é aquele que está no mercado há décadas, testado e aprovado. Os novos? Bem, eu os aguardo comer um pouco de arroz com feijão, se é que me entendem... Flávio
Boa noite a todos!
Muito bons os esclarecimentos e a oportunidade para os debates e dúvidas.
Em especial para os que estão chegando e esperam ter uma boa orientação.
Legal!
Abraços!
Alberto
Muito bacana a explicação e a discussão que seguiu. Há pontos positivos e negativos tanto no in house quanto no "terceirizado". Sempre aprendendo por aqui!
Abs
Excelente texto e abordagem. Concordo em gênero, número e grau com tudo que disse.
Realmente alguns ebauches modificados "in house" conseguem ter mais trabalho e desenvolvimento que alguns movimentos totalmente "in house".
E fiquei muito feliz pela analogia aos motores BMW, apenas uma ressalva para encher linguiça: Os motores das bmw M pré-turbo moderna, eram extensamente modificados, parte interna, cabeçotes, valvetrain, sistema de admissão, lubrificação e escapamento completamente diferentes, alguns sendo inclusive únicos como o V10 (S85B50) das M5/M6 e seu irmão com uma dupla à menos de cilindros S65B40 das M3. Atualmente as modificações realmente são muito menos extensas se comparados com motores "de linha".
Desculpa pela empolgação, é que tocou na outra paixão. ;D
Abraço!
Acho que a questão do in-house é mais uma dessas falácias que o consumidor faz questão de endossar.
A fábrica, que de boba tem nada, tem um departamento de marketing extremamente bem pago para inventar verdades e jogar com a vaidade das pessoas. E não são poucos os que enchem a boca para se colocarem, por conta própria, num suposto patamar de superioridade por causa desse in-house.
Compro relógio pelo conjunto. Para mim, um calibre supermegabaster in-house numa peça feia, mal ajambrada, nada representa. Da mesma forma, um relógio lindo com uma máquina meia-boca eu dou passagem.
Taí a Seiko que detém, creio, 100 por centro do processo de fabricação. E vejo poucos donos de Seiko ressaltando isso como se fosse uma exclusividade que só uns ungidos têm acesso.
Mas quando a marca é suíça... O cara mais parece o príncipe herdeiro do trono britânico.
Dic.
Tem até suiço com "in-house" japan movit...
Ainda acho que criticar iniciativa "inhouse" virou meio que "modinha" entre os "mais" entendidos, mas como dizem, it's just a fad, assim como criticar peças maiores, ou falar mal de clássicos consagrados, para remar contra a maré, apenas por remar. [emoji16]
Das grandes marcas, não vi movimentos inhouse que não oferecerem melhorias, pelo menos não nas linhas que me interessam.
Um exemplo, comprei um PAM 00000 por três motivos. Gosto do visual, estava em dúvida se a respeito da minha adaptação, e era mais barato. Sabia que tinha um Unitas dentro, e este era o motivo do valor mais acessível, como comprei sem saber se era aquilo mesmo que eu queria, escolhi o mais barato.
Adorei, e agora quero um PAM 00560, com o calibre inhouse e a corda de 8 dias, imagino ser um produto melhor, apesar de não ter as décadas de testes comprovados do 6497. O tempo dirá se estou errado, mas hoje acho que o pulo do valor vale muito a pena.
O que vale é o conjunto da obra, ninguém vai comprar uma peça que considera mais feia só por ser inhouse.
Eu sigo um pouco mais a linha de pensamento do Dic. Há cerca de uma década, departamentos de marketing das marcas "pescam" opiniões entre grupos influentes de colecionadores e coisas assim, amplificam a "coisa", e começam a empurrar goela abaixo do consumidor de entrada. O resultado é uma legião de consumidores que ontem não sabiam o que era algo "in-house" e hoje consideram uma "qualidade" indispensável.
Eu também enxergo esse apelo do "in-house" algo metade fabricado pelo marketing.
E sou bem mais cético que Arthur na questão de que os in-house frequentemente trazem melhorias ou vantagem. Eu já acho que uma minoria, quem sabe metade, dos calibres in-house trouxeram mesmo avanços realmente palpáveis (e não subjetivos ou emocionais) em termos de desempenho (precisão), robustez ou durabilidade em relação aos ETA, principalmente.
Abraços!
Adriano
Vejo exatamente como o Dic e o Adriano , o setor de marketing das marcas de luxo ( muito competente por sinal ) à tempo já identificou que para o consumidor ,principalmente o de entrada neste mercado ,ser " in house " torna o relógio mais exclusivo e de qualidade superior .
Tenho dúvidas também sobre as melhorias que estes calibres "in house " trazem na precisão,desempenho ao longo de anos e durabilidade.
Abs
Mas quando não falamos em inhouse, 99% das vezes, na indústria Suíça, não estamos falando de 2824, 2892, 2893, 7750, 6497 e 7001, fora os clones destes mesmos?
Não me levem a mal, tenho várias peças com estas máquinas, e me atendem plenamente.
Este assunto é bem interessante e volta e meia me vejo pensando nisso e pondero:
1. Qual Rolex crono eu preferiria: o antigo ou o com máquina própria?
2. Por que eu quero ter um crono com o movimento Zenith El Primero, não me importando se seja num Zenith ou em outra marca?
3. Eu tenho enorme simpatia pelos movimentos ETA 2824 e 2892. Isso para mim é mais importante que a marca? Sim. Só quero um acabamento de primeira.
Até porque dos movimentos feitos em casa eu gosto mesmo são os da série 500 da Omega e fabuloso 6119 da Seiko. Claro que me baseio naquilo que tenho, deixando de fora o muito que eu gostaria de possuir.
Eu sairia por aí divagando, para no final dizer que o texto do Flávio é muito bom.
Citação de: Schütz online 19 Janeiro 2016 às 22:14:08
Mas quando não falamos em inhouse, 99% das vezes, na indústria Suíça, não estamos falando de 2824, 2892, 2893, 7750, 6497 e 7001, fora os clones destes mesmos?
Não me levem a mal, tenho várias peças com estas máquinas, e me atendem plenamente.
Entendo seu raciocínio , mas veja por exemplo , a Panerai que você citou , os modelos com calibre ETA são mais baratos do aqueles com "in house" e qual a justificativa na ponta da lingua dos vendedores : são mais caros porque são "in house ", não por serem mais precisos , duráveis , etc. E até quem já possui como vc um Panerai equipado com Unitas, sente vontade de ter um de calibre próprio, se ele é melhor´( em todos os sentidos, até no custo benefício ) para mim ainda é uma interrogação.
Abs.
Mas eu acabei de dizer, eu prefiro o P5000 por ter 8 dias de reserva.
Quanto a durabilidade, o tempo dirá, não dá para ter uma idéia agora, fora os testes acelerados que a casas efetuam. Mas se eu depender disso, nunca vou experimentar nada novo.
A unica vantagem que consigo enxergar no uso do Unitas, é que posso largar o meu relógio em qualquer lugar, fora o preço de entrada. Mas mesmo assim, não pretendo deixar relógios de 7k de dólar no "relojoeiro do bairro", pelo menos não com o tanto de histórias boas que ouvimos por aqui...
Gente, em nenhum momento critiquei as efetivas manufaturas, pelo contrário. A singularidade do movimento, como disse, adiciona cor ao objeto. Só quis que houvesse ponderação que, do ponto de vista estrito de vantagem tecnológica, essa história do feito em casa nem sempre é a verdade absoluta que pregam. Uma range rover Sport super charged não vai deixar de ser menos land rover por usar um motor da jaguar, eis que este é excelente ao que se presta, compreenderam? Flávio
Com certeza Flávio, tudo nesta indústria tem "floreios".
Entendo a linha de vendas deles, é meio complicado explicar detalhes técnicos, então vamos com a abordagem se é feito em casa é melhor. rsrsrs... Vocês tem que lembrar que somos minoria no mercado.
Quanto ao custo, acho natural ser mais caro, um por geralmente agregar funcionalidades ou qualidades extras, e dois por ter que diluir o valor do investimento no desenvolvimento. Um Unitas já foi pago umas 10.000 vezes já.
Mas entendo perfeitamente a colocação de todos, só acho que pegam mais no pé dos inhouse do que deveriam. ;)
Um exemplo muito bacana para vocês levarem em consideração é o Tudor Pelagos. São 300 dólares de diferença entre o 2824 e o MT5612, mas o número de melhorias é gritante. A máquina tem uma reserva de 70 horas, que vai muito além das 38 do ETA, é certificado como cronometro, espiral de silício, balanço de inércia variável. Leia mais no link abaixo
http://www.watchesbysjx.com/2015/10/a-detailed-look-at-new-tudor-pelagos.html
Como falei, a maioria da empresas, pelo menos as que eu sou consumidor, se esforçam em apresentar algo melhor do que o oferecido anteriormente, para não cair nos comentários de vocês. Talvez possam citar exemplos de casas onde não viram isto acontecer, ia ajudar muito na compreensão do tópico.
Eu não posso dizer absolutamente nada sobre os novos calibres da Tudor, porque não os conheço. Mas a minha análise vem estritamente do ponto de vista técnico e do que isso representa para o consumidor.
Por exemplo, debatendo o que o Arthur expôs sobre o Tudor: reserva de marcha maior, espiral de silício e balanço de inércia variável. Acho também, isso tudo, um avanço grande sobre os ETA 2824. Agora, isso tudo, se reflete de fato em um calibre tecnicamente melhor? A reserva de marcha maior, por exemplo, é de fato uma vantagem para todos os usuários? Eu tenho minhas dúvidas. Por exemplo, para o meu uso, a reserva de marcha de um relógio faz diferença zero. Diferença nenhuma.
A presença da espiral da silício e o balanço de inércia variável é provavelmente um avanço grande em termos de precisão. Mas isso basta para dizer que é um calibre melhor mesmo? Repito que eu acredito que sim, mas já vi exemplos de outras marcas, que não. E que melhorias semelhantes não significavam absolutamente nada.
E eu, particularmente, não posso citar marcas. Mas o que quero dizer é que já vi marca mudar para calibre in-house ou alternativas aos ETA e que apesar da presença de elementos que supostamente eram melhorias, começaram a apresentar defeitos bobos e inaceitáveis, problemas de qualidade mesmo, que os ETA nunca apresentaram. Coisas bobas como problemas de carregamento na corda, desgaste excessivo em eixos com pouquíssimo uso, problemas no sistema de ajuste das horas (de todo tipo), problemas com calendário, problemas com o sistema de corda pela coroa. Vi tudo isso e mais um pouco justamente em calibres que vieram como substitutos dos ETA... todos esses tinham uma série de melhorias mais ou menos nesse nível do Tudor - melhor escapamento, melhor reserva de marcha, melhor isso e aquilo - mas o fundamental falha, e deixa o consumidor na mão. Às vezes trava no estoque da loja, não dá tempo nem de chegar na mão do consumidor.
É óbvio que do meu ponto de vista, vou ver esses problemas muito mais que todos vocês juntos. Mas já vi tanto, que me deixou meio cético com relação à substitutos de ETA, sejam in-house ou não.
Então, do ponto de vista estritamente técnico, e o quanto isso se reflete para o usuário, eu passei a entender que as vantagens muitas vezes não compensam a confiabilidade que havia nos ETA. E há consumidor ainda, que tudo o que quer, é não ficar na mão. Não importa se tem isso ou aquilo.
Aliás, temos que ter em mente que somos minoria. Só a gente se importa com escapamento isso ou aquilo, silício aqui ou ali. O consumidor médio nem quer saber o que é isso. Só quer que funcione, porque pagou caro.
Abraços!
Adriano
Mas tudo isso não é fundamental para uma avanço destes produtos? Vamos entrar mais uma vez naquela dúvida da durabilidade, ou de se no futuro vai haver como reparar novos materiais, etc... Ou até onde a precisão é importante para você? Pode se discutir que uma máquina bem regulada apresente desempenho igual ou até melhor, mas o mesmo vale também para a máquina moderna também.
É lógico que o que foi testado e aprovado pelo próprio tempo é o que vai perdurar, mecanismos falhos do passado não são usados, os movimentos da "velha guarda" utilizados hoje são aqueles que não apresentaram problemas, ou se apresentaram, já passaram por revisões para sanar estas falhas.
Não consigo olhar desta forma, e mais uma vez, posso estar muito errado.
O motor do Fusca refrigerado a ar esta aí para nos mostrar, te leva de A a B, funciona muito bem e qualquer um pode reparar, até você se quiser, peças são encontradas em qualquer lugar. Mas eu prefiro um motor com injeção direta, comando de válvulas variável, corte inteligente de cilindros para poupar combustível, etc...
Tem que ponderar, é assunto para páginas e mais páginas de debate. ;D
Vamos deixar claro: em momento algum me coloco contra o in-house. Seria pedir que as coisas não evoluíssem. Fosse por aí, os V8 de hoje ainda seriam flathead (por mais apaixonantes que sejam).
A questão é marquetagem, a empulhação.
É como anúncio de cigarros da década de 1970: carrões, barcões, mulheres lindas, casas deslumbrantes... Aquilo não era para mim, que sabia que acendendo um cigarro não me transformaria no Roger Moore (para citar um ícone de beleza masculina de 40 anos atrás).
Era para aquele cara que nutria uma esperança que, fumando aquele cigarro, se destinguiria da plebe. Afinal, diz a propaganda, aquele cigarro é fumado pelo pessoal bem sucedido, rico, famoso, que tem... carrões, barcões, mulheres lindas, casas deslumbrantes!
Mentira, propaganda enganosa.
Voltando ao in-house. Seu apelo publicitário é muito maior por se tratar de algo feito pela própria manufatura do que pelas melhorias que traz. Confiram. Façam uma sondagem mesmo entre os aficcionados. Poucos ressaltarão a tecnologia embutida. Provavelmente nem conseguirão citar todos (ou muitos) dos avanços contidos no relógio que traz no pulso.
Mas na rodinha... O cara fica com quatro metros de altura.
Dic
E vou me estender um pouco sobre o assunto da reserva de marcha.
Além da reserva de marcha ser uma vantagem relativa (para muitos usuários, a diferença é nula), eu passei a entender que a reserva de marcha cada vez maior é uma estratégia técnica para se obter melhor desempenho cronométrico, muito mais do que o que os departamentos de marketing dizem, que é para oferecer uma vantagem para o usuário, de que o relógio funciona por mais tempo fora do pulso...
Ora, será que um dia a mais ou a menos, fora do pulso, faz mesmo diferença? Tem impacto mesmo no usuário médio?
Porém, a diferença do desempenho cronométrico é grande. E mais: fica cada vez mais fácil receber um COSC. Alguém já parou para pensar por que o COSC testa a diferença de marcha em 24 horas? Isso é uma convenção herdada do tempo em que relógios eram de corda, e recebiam corda uma vez por dia, ou, em teoria, a cada 24 horas. Ou seja, a maior flutuação de energia era exatamente a corda cheia e o momento antes de receber corda novamente no dia seguinte.
Posto isso, nada mais lógico do que medir a precisão do relógio nessas duas condições, certo? Supondo um relógio com 48 horas de reserva de marcha, no teste de 24 horas ele terá 50% de corda. Posto que a curva de descarga de força não é proporcional, imagina-se que após 24 horas o relógio tenha ainda 70% da força. Porém, o que isso reflete em um relógio automático que fica flutuando entre corda cheia e quase cheia, o dia todo? Algo como 95% a 70% de corda, ou algo entre 100% e 85% de força?
Agora você pega um relógio como um 2824 que tem 38 horas de reserva. Em 24 horas, a corda dele está para lá da metade, rumo ao fim. Algo como 35% de corda, ou algo como 50% de força. Suas chances de "levar bomba" em um COSC é grande (e mesmo assim não leva), pois a variação de marcha é um dos itens que mais decisivos do COSC. Se a variação for grande demais, leva pau no teste. De repente, você pega um calibre semelhante, mas com 70 ou 80 horas de reserva de marcha. O que acontece depois de 24 horas? Você tem 80% de corda ainda e 95% da energia inicial. O relógio precisa ser muito ruim para ter flutuação de marcha entre 100% e 95% de força. Resultado? Um escapamento pífio passa no COSC, porque tem mais de 3 dias de reserva de marcha. O resultado é melhor que o de um 2824-2 Top, no COSC. Mas esse mesmo calibre de 70 ou 80 horas, depois de 48, começa a capengar.
É uma avaliação correta? Proporcional? Justa? Ou o mais correto é que a variação de marcha não fosse medida após 24 horas, mas sim após 50% da corda desenvolvida, seja lá qual fosse a reserva? Ou seja, um relógio de 8 dias teria que ter a variação medida entre zero hora e 4 dias. E aí?
Ou seja, a convenção de teste entre 0h e 24h pode ser considerada um tanto arcaica e ultrapassada. E relógios com reserva de marcha longa e isocronismo duvidoso acabam se beneficiando e apresentando resultados melhores do que ultra-mega-escapamentos ajustados pelos melhores caras, mas em um calibre com 44 horas de reserva.
Será mesmo que os padrões de teste estão dando uma perspectiva real da qualidade de manufatura daquilo que está recebendo COSC? Ou o resultado está cada vez mais "artificializado" porque os critérios estão irreais e inadequados?
Eu tenho CERTEZA absoluta da última hipótese. Tem relógio recebendo COSC que, não fosse por sua reserva de marcha grande, não passaria nem na porta do instituto. E vejam, acho brilhante que certos calibres tenham conseguido isso. Porém, o fato de ter o certificado, vende uma imagem irreal, de que ali há um escapamento de altíssimo desempenho, e um ajuste finíssimo.
Abraços!
Adriano
Eu até pensei em escrever a respeito da tensão da corda nestes movimentos com reserva maior, na resposta anterior, mas o Adriano mais uma vez nos brindou com suas "aulas".
Este tópico esta caminhando muito bem, muita coisa legal sendo apresentada. Obrigado pelas colocações.
Citação de: Schütz online 20 Janeiro 2016 às 10:01:45
O motor do Fusca refrigerado a ar esta aí para nos mostrar, te leva de A a B, funciona muito bem e qualquer um pode reparar, até você se quiser, peças são encontradas em qualquer lugar. Mas eu prefiro um motor com injeção direta, comando de válvulas variável, corte inteligente de cilindros para poupar combustível, etc...
Tem que ponderar, é assunto para páginas e mais páginas de debate. ;D
O problema Arthur, é quando esse motor com injeção direta, VVT, e etc., não consegue te levar de A a B, porque soltou um fiozinho ou outra bobagem - que não aconteceria no refrigerado a ar, e o carro não tem nem 5.000 km, e você tem que ir para a oficina em cima de um guincho, e depois de pagar a mais pelo carro que tem tudo isso, frente ao que não tem. O cliente espuma de raiva. E isso acontece.
Enquanto não acontece, é tudo maravilhoso e é só vantagem. Você é um aficcionado, por carros também. Mas tem aquele cara que só queria ir do ponto A ao B. Era só isso que ele esperava do carro e ele não fez.
Abraços!
Adriano
hehehehe... é uma troca, eu não posso "brincar" mais, vira uma caixa preta, mas geralmente tem suas vantagens que acompanham. É um processo natural, acredito eu.
Citação de: Adriano online 20 Janeiro 2016 às 10:20:05
O problema Arthur, é quando esse motor com injeção direta, VVT, e etc., não consegue te levar de A a B, porque soltou um fiozinho ou outra bobagem - que não aconteceria no refrigerado a ar, e o carro não tem nem 5.000 km, e você tem que ir para a oficina em cima de um guincho, e depois de pagar a mais pelo carro que tem tudo isso, frente ao que não tem. O cliente espuma de raiva. E isso acontece.
Enquanto não acontece, é tudo maravilhoso e é só vantagem. Você é um aficcionado, por carros também. Mas tem aquele cara que só queria ir do ponto A ao B. Era só isso que ele esperava do carro e ele não fez.
Abraços!
Adriano
Bom, tivesse comprado um Azzera com motor de fuca, então, e não o Azzera com motor in-house. a premissa é exatamente a mesma.
Eu acho que essa é a questão que menos importa, pois o marketing faz parte da inovação. Nunca é barato fazer algo completamente novo. E tem gente que compra a idéia, simples assim.
Ainda acho que o que vale é o que está aqui:
"Mas quando não falamos em inhouse, 99% das vezes, na indústria Suíça, não estamos falando de 2824, 2892, 2893, 7750, 6497 e 7001, fora os clones destes mesmos?
Não me levem a mal, tenho várias peças com estas máquinas, e me atendem plenamente."
Ao menos é isso que me interessa.
hehehe... o que eu quis dizer é que são movimentos que não incorporam tecnologias novas, em voga nos dias de hoje, são todos movimentos já com suas décadas de serviço.
O outro 1% deve ser de Soprod. ;D
Citação de: Schütz online 20 Janeiro 2016 às 10:29:40
hehehehe... é uma troca, eu não posso "brincar" mais, vira uma caixa preta, mas geralmente tem suas vantagens que acompanham. É um processo natural, acredito eu.
Exato! O problema é que enquanto na indústria automobilistica isso é de fato "geralmente", e eu concordo totalmente, na indústria relojoeira eu estou com minhas dúvidas sobre o "geralmente". Essa é a grande questão.
Pode até ser o caminho natural. Mas por enquanto, esse caminho ainda tem obstáculos que estão deixando consumidores putos. Está melhorando, mas me parece que houve pressa em colocar no mercado muito calibre novo. E a confiabilidade está indo de encontro com a imagem da relojoaria suíça.
Abraços!
Adriano
Outro motivo de tanto inhouse no momento estaria ligado ao fato da swatch estar deixando progressivamente de fornecer seus calibres a terceiros?
Outra ponto é que grande parte das marcas tem usado, como ferramenta de marketing talvez, o aumento da garantia atrelado ao uso desses novos calibre próprios, não seria isto uma maneira indireta que vender confiança naquele novo produto que eles mesmo desenvolveram?
Também acho que todo mundo entrou nessa onda do inhouse, desenvolvendo calibres a toque de caixa, pois o concorrente já fez. Mas acho que com o tempo tudo se acerta, todo parto é complicado mesmo. ;D
Citação de: Schütz online 20 Janeiro 2016 às 10:55:10
hehehe... o que eu quis dizer é que são movimentos que não incorporam tecnologias novas, em voga nos dias de hoje, são todos movimentos já com suas décadas de serviço.
O outro 1% deve ser de Soprod. ;D
kkkk
Mas o que tu disse ali é o basicamente o porquê da questão ter sido levantada. In house é calibre criado do 0. desde sua concepção.
O resto é mod. por melhor executado que seja é mod. pegar algo pronto e acrescentar ou tirar coisas, por mais que haja engenharia, estudo, etc no meio, não é criar de maneira plena.
Citação de: Adriano online 19 Janeiro 2016 às 21:42:16
Eu sigo um pouco mais a linha de pensamento do Dic. Há cerca de uma década, departamentos de marketing das marcas "pescam" opiniões entre grupos influentes de colecionadores e coisas assim, amplificam a "coisa", e começam a empurrar goela abaixo do consumidor de entrada. O resultado é uma legião de consumidores que ontem não sabiam o que era algo "in-house" e hoje consideram uma "qualidade" indispensável.
Eu também enxergo esse apelo do "in-house" algo metade fabricado pelo marketing.
E sou bem mais cético que Arthur na questão de que os in-house frequentemente trazem melhorias ou vantagem. Eu já acho que uma minoria, quem sabe metade, dos calibres in-house trouxeram mesmo avanços realmente palpáveis (e não subjetivos ou emocionais) em termos de desempenho (precisão), robustez ou durabilidade em relação aos ETA, principalmente.
Abraços!
Adriano
+1
Sensacional esse tópico, galera!! Alto nível! ;)
Abraços!
Citação de: Adriano online 20 Janeiro 2016 às 09:46:01
Eu não posso dizer absolutamente nada sobre os novos calibres da Tudor, porque não os conheço. Mas a minha análise vem estritamente do ponto de vista técnico e do que isso representa para o consumidor.
Por exemplo, debatendo o que o Arthur expôs sobre o Tudor: reserva de marcha maior, espiral de silício e balanço de inércia variável. Acho também, isso tudo, um avanço grande sobre os ETA 2824. Agora, isso tudo, se reflete de fato em um calibre tecnicamente melhor? A reserva de marcha maior, por exemplo, é de fato uma vantagem para todos os usuários? Eu tenho minhas dúvidas. Por exemplo, para o meu uso, a reserva de marcha de um relógio faz diferença zero. Diferença nenhuma.
A presença da espiral da silício e o balanço de inércia variável é provavelmente um avanço grande em termos de precisão. Mas isso basta para dizer que é um calibre melhor mesmo? Repito que eu acredito que sim, mas já vi exemplos de outras marcas, que não. E que melhorias semelhantes não significavam absolutamente nada.
E eu, particularmente, não posso citar marcas. Mas o que quero dizer é que já vi marca mudar para calibre in-house ou alternativas aos ETA e que apesar da presença de elementos que supostamente eram melhorias, começaram a apresentar defeitos bobos e inaceitáveis, problemas de qualidade mesmo, que os ETA nunca apresentaram. Coisas bobas como problemas de carregamento na corda, desgaste excessivo em eixos com pouquíssimo uso, problemas no sistema de ajuste das horas (de todo tipo), problemas com calendário, problemas com o sistema de corda pela coroa. Vi tudo isso e mais um pouco justamente em calibres que vieram como substitutos dos ETA... todos esses tinham uma série de melhorias mais ou menos nesse nível do Tudor - melhor escapamento, melhor reserva de marcha, melhor isso e aquilo - mas o fundamental falha, e deixa o consumidor na mão. Às vezes trava no estoque da loja, não dá tempo nem de chegar na mão do consumidor.
É óbvio que do meu ponto de vista, vou ver esses problemas muito mais que todos vocês juntos. Mas já vi tanto, que me deixou meio cético com relação à substitutos de ETA, sejam in-house ou não.
Então, do ponto de vista estritamente técnico, e o quanto isso se reflete para o usuário, eu passei a entender que as vantagens muitas vezes não compensam a confiabilidade que havia nos ETA. E há consumidor ainda, que tudo o que quer, é não ficar na mão. Não importa se tem isso ou aquilo.
Aliás, temos que ter em mente que somos minoria. Só a gente se importa com escapamento isso ou aquilo, silício aqui ou ali. O consumidor médio nem quer saber o que é isso. Só quer que funcione, porque pagou caro.
Abraços!
Adriano
Matou. Concordo em gênero, número e grau.
Dic
Citação de: GuilhermeAzeredo online 20 Janeiro 2016 às 11:33:19
Sensacional esse tópico, galera!! Alto nível! ;)
Abraços!
Exatamente!
Esses tópicos são ótimos. Aprendo demais e fico besta com o conhecimento de alguns colegas.
Esta muito bom de se ver mesmo.
Sobre a piada que não colou, a indignação de vários é com o marketing ludibriante de algumas marcas. Me lembrou a tag heuer com seu movimento inhouse da seiko. E deu aquele bafafá, esse é um exemplo perfeito de como essa onda do inhouse muitas vezes é puramente competição de marketing.
E outro lado da moeda, a questão de ser ETA (ou fusca) também não é garantia de durabilidade e funcionamento sem dores de cabeça.
Quando estava pesquisando sobre o longines Moonphases, vi muita gente reclamando de problemas, e massivamente com o sistema de cronógrafo, algumas vezes no "day zero" com os relógios.
Citação de: Schütz online 19 Janeiro 2016 às 23:20:57
Mas eu acabei de dizer, eu prefiro o P5000 por ter 8 dias de reserva.
Quanto a durabilidade, o tempo dirá, não dá para ter uma idéia agora, fora os testes acelerados que a casas efetuam. Mas se eu depender disso, nunca vou experimentar nada novo.
A unica vantagem que consigo enxergar no uso do Unitas, é que posso largar o meu relógio em qualquer lugar, fora o preço de entrada. Mas mesmo assim, não pretendo deixar relógios de 7k de dólar no "relojoeiro do bairro", pelo menos não com o tanto de histórias boas que ouvimos por aqui...
+1
Citação de: Schütz online 20 Janeiro 2016 às 08:59:11
Com certeza Flávio, tudo nesta indústria tem "floreios".
Entendo a linha de vendas deles, é meio complicado explicar detalhes técnicos, então vamos com a abordagem se é feito em casa é melhor. rsrsrs... Vocês tem que lembrar que somos minoria no mercado.
Quanto ao custo, acho natural ser mais caro, um por geralmente agregar funcionalidades ou qualidades extras, e dois por ter que diluir o valor do investimento no desenvolvimento. Um Unitas já foi pago umas 10.000 vezes já.
Mas entendo perfeitamente a colocação de todos, só acho que pegam mais no pé dos inhouse do que deveriam. ;)
+1
Voto com o relator!!!
Citação de: Dicbetts online 20 Janeiro 2016 às 10:08:05
Vamos deixar claro: em momento algum me coloco contra o in-house. Seria pedir que as coisas não evoluíssem. Fosse por aí, os V8 de hoje ainda seriam flathead (por mais apaixonantes que sejam).
A questão é marquetagem, a empulhação.
É como anúncio de cigarros da década de 1970: carrões, barcões, mulheres lindas, casas deslumbrantes... Aquilo não era para mim, que sabia que acendendo um cigarro não me transformaria no Roger Moore (para citar um ícone de beleza masculina de 40 anos atrás).
Era para aquele cara que nutria uma esperança que, fumando aquele cigarro, se destinguiria da plebe. Afinal, diz a propaganda, aquele cigarro é fumado pelo pessoal bem sucedido, rico, famoso, que tem... carrões, barcões, mulheres lindas, casas deslumbrantes!
Mentira, propaganda enganosa.
Voltando ao in-house. Seu apelo publicitário é muito maior por se tratar de algo feito pela própria manufatura do que pelas melhorias que traz. Confiram. Façam uma sondagem mesmo entre os aficcionados. Poucos ressaltarão a tecnologia embutida. Provavelmente nem conseguirão citar todos (ou muitos) dos avanços contidos no relógio que traz no pulso.
Mas na rodinha... O cara fica com quatro metros de altura.
Dic
Concordo 100 %.
Adriano valeu por compartilhar seus conhecimentos.
Òtimo tópico, opiniões distintas , mas com embasamento.
Abs.
Algumas considerações "do mundo" real para pensarem...
O calibre Seiko/Heuer citado acima era... Bem, estritamente falando ele era feito em casa, porque apesar de o projeto ser da Seiko, toda sua fabricação era realizada pela Tag Heuer. Foi bom citarem isso, porque cuida-se de mais uma discussão sobre legitimidade, entre as várias levantadas acima. Aliás, situação análoga, mas nem tanto, pode ser atribuída à Ulysse Nardin e seu "novo" cronógrafo, cheio de frescuras na decoração, mas que no fundo... É o calibre 137 da Ebel que, não podendo mais se dar ao luxo de fabricar tais relógios, vendeu o projeto há dois anos, inclusive com ferramental para fabricá-lo, para a Ulysse, que agora propala aos sete ventos que se trata de algo feito em casa. Sim, realmente é feito em casa, na fábrica da Ulysse em Le Locle... Mas com o ferramental que foi comprado da Ebel, inclusive projeto. Aliás, dizem as más línguas que até os relojoeiros da Ebel foram para a Ulysse.
Mas não só! Até pouco tempo atrás, uns dez anos, a Patek não queria se dar ao luxo de fabricar cronógrafos, coisa que nunca fez na sua existência, pelo menos não para relógios de pulso. Usava, então, calibres da Lemania totalmente decorados por eles. Aliás, a Lemania forneceu durante quase um século movimentos de cronógrafos para a maioria das fábricas suíças, e ninguém estava nem aí se eram ou não fabricados pelas próprias. Era assim que ocorria: eu não tenho expertise para fabricar cronos ou dinheiro para gastar em algo que não vende muito (cronos nunca venderam muito na indústria, isso é algo novo), melhor comprar de quem sabe fazer. E assim fizeram Patek, Rolex, Omega, Vacheron, etc, durante quase um século. Claro, sempre há as exceções, e normalmente se situavam na Zenith e Longines que, tenho como mote a produção totalmente integrada e sendo as gigantescas fábricas que eram, muito a frente do tempo de Rolexes e cia, também faziam cronos.
Mas há situações curiosas que persistem até hoje... Sabem qual é considerado, até hoje, o mais exclusivo calibre automático do mundo, seja pelo acabamento como pelas sacadas tecnológicas que possui? Os calibres da Patek usados nos Nautilus até bem pouco tempo atrás, os Vacheron atualmente usados nos Overseas e os usados pela Audemars Piguet nos Royal Oak Jumbo. Detalhe: todos são o mesmo movimento, apenas com acabamentos DECORATIVOS diferentes. Isso mesmo, são o mesmo movimento, só muda a decoração! Pior: nem são eles que fabricam, mas a JLC. E ninguém nunca sequer discutiu serem ou não fodásticos. Aliás, as três fábricas citadas enaltecem a todo momento serem reais manufaturas e terem os melhores relógios (e mais caros) do mundo. E compartilham o mesmo movimento que, diga-se de passagem, nem são eles que fabricam.
Sobre o tal movimento, uma análise há muito pelo Walt Odets, cujos pau no toba do Timezone, na atualização do site, fizeram o favor de reduzir o tamanho das fotografias e impossibilitar a análise dos detalhes. Ei, a JLC fornece para todas as tais fábricas o movimento completo, pronto para usar, mas sem acabamento decorativo. Este é aplicado a mão por Vacheron, Patek e AP. E como nesse exemplo da Vacheron, não, você não vai encontrar perolizado em partes não visíveis em Omegas e Rolexes...
http://www.timezone.com/2002/10/03/the-most-exclusive-automatic-the-vacheron-caliber-1120/
Flávio
Esses são casos realmente famosos no meio.
Mas creio que a situação atual e a percepção do consumidor em relação aos calibres inhouse vai acabar forçando todos a tomar o mesmo caminho.
A Patek, em relação ao chrono citado, teve como "empurrãozinho" provavelmente o calibre do Lange. E o caso do calibre JLC, tanto a VC quanto a Patek já tem os seus próprios nas peças citadas, só ficou a AP.
Citação de: Matt5 online 20 Janeiro 2016 às 12:30:31
Esta muito bom de se ver mesmo.
Sobre a piada que não colou, a indignação de vários é com o marketing ludibriante de algumas marcas. Me lembrou a tag heuer com seu movimento inhouse da seiko. E deu aquele bafafá, esse é um exemplo perfeito de como essa onda do inhouse muitas vezes é puramente competição de marketing.
O marketing não é necessariamente negativo. Mas o publicitário sabe, e estimula, por vias sub-liminares, que quem recebe a mensagem tende a enxergar mais atributos que os realmente existentes no produto.
E um dos pontos-chave para o sucesso de qualquer produto é a capacidade que ele tem de, supostamente, te distinguir na multidão.
A indústria do luxo joga esse elemento muito bem. Ostenta embaixadores, aventuras, patrocínios, ligações históricas - e por aí vai.
Quantas vezes você não ouviu, na mesa de aficcionados, um dos participantes dizer que a marca X de relógio patrocina o torneio de tênis tal, ou a corrida Y, ou a regata Z?
Essa é a maior prova de que o cara foi capturado pelo marketing da empresa que fabrica o relógio que ele usa. Faz dele um tenista, um piloto de carros ou um navegador? Não.
Mas ele se sente maravilhosamente bem em saber que tem um relógio, por exemplo, semelhante ao que o Federer ou o Massa usam.
Vive a fantasia de que isso o separa da plebe ignara.
Os subconjuntos do produto cartesiano são as relações binárias. Saindo da matemática, é mais ou menos o seguinte: gosto disso por causa daquilo. Gosto do relógio X porque ele é: bonito, grande, de ouro, redondo, preciso, suíço... As relações são inúmeras.
Mas existe sempre uma primeira relação que vem antes de todas as outras: gosto do relógio X porque é preciso - e também porque é suíço, redondo, de ouro...
Só não esqueça que muitos respondem que gostam do relógio X porque, primeiramente, ele distingue, diferencia, eleva...
Está aí a força do marketing.
Dic
Arthur, com certeza, pois, como ressaltei acima, se o mercado hoje preza por exclusividade como forma de separar maçãs de laranjas, cada um tem que diferenciar-se completamente. Falando especificamente do novo calibre de crono da Patek, TEORICAMENTE, para não fugir do que dissemos acima, ele é muito mais bem sacado do que os Lemania, produtos de no mínimo uns 60 anos atrás (acho que só os Lemania do Speedmaster são tão "cápsulas do tempo" assim do passado) usados antes. Sem deixar de serem tradicionais, aprimoraram muita coisa.
Já os JLC usados pela Patek (já os abandonou), AP (ainda usa no Jumbo, por preciosismo, assim como a Omega usa o Lemania no Speedy) e VC (ainda usa, nem sei o motivo...), sei lá...
E vou dizer algo das internas aqui, talvez o Adriano possa confirmar. Quando a AP abandonou o JLC em toda linha, deixando-o apenas no Jumbo, tinha que apresentar algo fodástico. Eh... Sei lá se apresentou... Os novos 3120 possuem um belo rotor, em ouro maciço, patati, patatá, mas apresentam um acabamento industrial que não estava presente (e não está...) nos JLC modificados por eles. E o JLC, que tinha tudo para dar pau, por ser um dos mais finos movimentos do mercado (são diminutos 2.5 mm, mas com o rotor correndo na extremidade e não no topo), não tem histórico de "paus". Houve uma conversa há algum tempo sobre os 3120 no sentido de que arregavam carga com pouco uso... Adriano, confirma isso? Corrigiram?
Flávio
Flávio, eu não cheguei a ver problemas de carregamento em 3120 não, não posso dizer nada a respeito. Mas sim, desde seu lançamento, ele já passou por algumas atualizações. Quase todo calibre passa, na verdade. Hoje passam até rápido. Pegue um 7750 e levaram muitos anos para aprimorar ele ao nível que é hoje. Hoje ocorre tudo mais rápido.
Ah, e eu já acho o 3120 bem mais bacana, esteticamente mesmo. Acho o nível de acabamento estético dele melhor que o dos JLC que o precedia.
Aliás o próprio 889 passou por várias modificações na mão da AP. Até o sistema de carregamento original, bidirecional (e de eficiência questionável) foi transformado em unidirecional.
Abraços!
Adriano
Estava pesquisando sobre o IWC 79320 e me deparei com um texto interessante no watchuseek, provavelmente já lido por muitos, até os exemplos citados parecem, mas fica a dica para quem nunca leu.
O texto é de 1998.
http://www.iwcforum.com/Uhrenjournal.html
Uma coisa que me deu
uma brochada muito grande, mas pode ser a maior besteira, foi quando a ETA deixou de fornecer os ebauches para cada um fazer a modificação que quisesse, e começou a libera-los já com as modificações pedidas pelos fabricantes com as especificações técnicas exclusivas pedidas por cada um..... Sei lá perdeu um pouco o charme tais modificações.... Ou é lenda isso?!? Eu ao contrário da maioria aqui acho bacana cada um fazer o seu.... Mesmo que nos fodamos na manutenção que acaba morrendo na mão dos fabricantes por falta de peças etc. Acho que fui enganado pelo marketing deles direitinho...
Abraços
Não sei se é bem assim que funciona não, Cesar. Ainda tem marca que recebe ebauche da ETA e modifica como quer. Ulysse Nardin, salvo engano, é uma.
Abraços!
Adriano