Eu sinceramente não sou muito fã desses tópicos que descambam para o famoso, imitado e nunca igualado "tópico Hublot". De um lago, leva aos foristas a impressão que nós, moderadores e outros, estamos tentando impor um ponto de vista. Por outro, dá a impressão que outras pessoas estão ventilando fatos de forma subjetiva, sem fundamento prático.
Olha, vou procurar não me estender, mas repito aqui: não sou fã da marca Rolex, digo, do ponto de vista do "coração" mesmo. Sou mais um fan boy da Omega. Eu, por exemplo, tenho 3 modelos, mas consigo ver defeitos e qualidades em todos.
Dito isso, vamos inicialmente definir sobre o que falamos: relógios de 10 mil dólares em aço, que é a produção básica da Rolex. Não vou entrar no mérito de uma produção limitada de Sky Dwellers, etc, pois não é isso que vemos por aí.
Acabamento estético feito de forma manual agrega valor a um produto? Claro, agrega. Mas... Sinto muito, isso não será encontrado num Rolex, como também não o será em marcas concorrentes desta faixa de preço. Bordas chanfradas a mão? Eh... Não. E mesmo à máquina mal chanfradas, porque nas transições (isso é característica de máquina), tendem a ficar muito arredondadas. Perolizado bastante uniforme, mas muito próximo e com variações de um relógio para outro? Eh... Também não. Listras de genebra que de fato refletem a luz e, dependendo do ângulo, se tornam pretas e com profundidade, também característica de algo superior? Não... Dentes de engrenagens polidos e com bastante brilho? Eh... Não. Aliás, ouso dizer que o acabamento estético (a qualidade do acabamento, não o visual dele) da concorrente direta, a Omega, é superior ao da Rolex. E é mesmo, não precisa ser um expert em relojoaria para ver isso, basta abrir um movimento 3130 e colocá-lo ao lado dos Omega 8500. Eu, por exemplo, tenho um relógio com o 8500 e acho o acabamento em arabesco da Omega de gosto um tanto quanto duvidoso, não estou discutindo isso, mas qualidade. Comparem a precisão de chanfros e polimentos da Omega, são nitidamente superiores.
Porém... Acabamento estético é perfumaria. Agrega valor mas é perfumaria, muito embora existisse, no passado (ainda existe, vá...) funções técnicas numa bacia de rubi bem polida e até mesmo num perolizado bem feito. Isso é outra história...
Mas voltando à Rolex, um relógio deve ser, antes de tudo, um equipamento de precisão ao que veio. Neste sentido, o projeto de escapamento é algo que diferencia – tecnicamente mesmo – um bom relógio de um excelente. Não há dúvidas, já que isso foi comprovado cientificamente por Lossier e Philipps no fim do século 19, que curvas terminais sobrepostas em uma espiral garantem melhor isocronismo. A Rolex tem... E vejam: são poucos os fabricantes hoje que usam isso, eu particularmente não lembro de nenhum grande. Sério! Nenhum! É fato também que reguladores atuam no comprimento (ou nos anteparos do piton) da mola, alterando o seu isocronismo. Um relógio sem regulador, “free sprung”, tem melhor capacidade cronométrica, isso é fato. A Rolex tem também, muito embora isso não seja exclusivo dela ( a Omega tem, muito embora só nos calibres feitos em casa). Molas totalmente não magnéticas? Todo mundo tem sua fórmula, mas a Rolex não só tem como FABRICA a sua! Isso é fantástico, levando-se em conta que a última fornada de Nivarox feita no mundo tem uns 50 anos (sério!), tal a complexidade de se produzir materiais semelhantes.
Não vou continuar, mas o que quero dizer é que a Rolex tem um PUTA PROJETO DE ESCAPAMENTO, feito por eles próprios e, por isso, faça sol, chuva, raios, etc, os seus relógios marcam bem o tempo. E como tudo é superdimensionado, não estragam tão fácil assim.
Caixa? A Rolex usa uma liga metálica muito mais difícil de trabalhar e cara, só para que o brilho do relógio seja do modo que é... Dizem que é para melhorar a resistência a corrosão, mas isso é apenas consequência, eles querem é o brilho espelho da liga.
Ponteiros? Enquanto a maioria dos fabricantes os faz em latão e folheiam a ródio (isso nas melhores família e relógios de preço superior, como, por exemplo, Glashutte Original...), a Rolex os faz em... Ouro branco!
Os mostradores também possuem indexes em ouro branco, não em latão folheado. E alguém já parou para prestar atenção na qualidade de impressão da Rolex e o quão profundas as suas cores são, mesmo o preto?
Os braceletes era UM LIXO INACREDITÁVEL, péssimos mesmo. Eu tenho um Explorer I de 2008 e não consigo acreditar o quão vagabundo o bracelete é. Mas é confortável, não posso negar... Por outro lado, a Rolex não só reprojetou todos os seus braceletes como criou a peça de engenharia mais DUBARALHO que eu já vi nos últimos anos! Aliás, como não pensaram nisso antes? Alguém aqui nega que o sistema Glidelock é o troço mais bacana já inventado? E a qualidade da usinagem das peças? Fantástico!
Enfim, não queiram comparar o acabamento estético de um Rolex a um Patek. Não dá para comparar, é brutal a diferença. Aliás, eu não sabia o quão brutal era até me ver na frente de um Patek crono ratrapante. É brutal, é brutal. Mas a diferença de preço é brutal também. Mas quando comparamos performance cronométrica, a Rolex dá um pau não só nas suas concorrentes diretas como nas indiretas, e isso veio sendo comprovado em décadas de competições de observatório, onde ela ganhou muito. A Omega ganhou mais, mas ela ganhou muito, muito mesmo.
Antigamente eu tinha a impressão que os Rolex eram overpriced. Tinha mesmo! Mas eu tive uma visão, e falo até quando e onde foi: em Biel, com meu amigo Igor, olhando para a fábrica. Lá eu pensei: não há relógio melhor do que esse na faixa de preço. Existem semelhantes, mas melhor? Não há.
E vejam que a análise que fiz não foi apaixonada, mas eminentemente técnica, até mesmo porque, repito, admiro a marca, mas meu “coração” não é Rolex, mas outra coisa.
Flávio
Ps: menti quanto a escrever pouco, empolguei!