Dic,
Veja bem a 356 com motor VW é um clássico, mas a Dino com motor Fiat foi um fracasso. Seria a analogia que fiz da IWC.
Estou apenas tentando desenhar minha dúvida. É lógico que trocar um 2824 por um mecânico tabajara é bobagem. A empresa tem que ter uma pica grossa pra desenvolver algo que preste. Senão é um retrocesso. Mas veja a Panerai, largou de usar Unitas e 7750 e passou a produzir, não estou falando do conglomerado, se é ou não in house, mas hoje usa calibres próprios, exclusivos. Vejo isso como um salto grande dela como um fabricante de relógios.
A Tudor seguiu o mesmo caminho. Sei que algumas marcas de entrada isso é um pouco complicado. A C.Ward por exemplo, se não vingar, daqui uns anos todos os modelos in house estão fadados ao fracasso...
Não há porquê reinventar a roda. Mas no caso de relógios de marcas mais nobres, usar um calibre diferenciado, exclusivo, seja desenvolvido ou fabricado por outro, na minha simples concepção valoriza muito.
Busco apenas uma discussão saudável a respeito do tema. E confesso que é algo que por vezes me deixa confuso, e não tenho uma opinião 100% formada pelo assunto.
Abraços
Jota,
Também busco discussões saudáveis, sempre. Isto posto, vamos ao debate.
Como disse lá em cima, o conceito de in-house é mais marquetagem que qualquer outra coisa. O termo busca, essencialmente, afirmar que se trata de um desenvolvimento levado a cabo nas próprias oficinas, mais que a fabricação de todos os elementos que o integram.
Só que um desenvolvimento se faz com componentes disponíveis. Onde? No mercado. Até se agrega um fator ou outro de exclusividade, nesse processo de terceirização. Mas tudo seria impossível. E proibitivo.
(Faço aqui um parêntese. Quando comprei meu primeiro carro, 30 anos atrás, e passei a bancar sua manutenção, sempre achei estranho que um cabo de vela, uma bateria, um filtro de combustível fosse compatível com mais de um modelo, de montadoras diferentes. Custei a entender que essa compatibilidade é o vetor de barateamento de custos. Para toda a cadeia produtiva!)
Isso, portanto, joga por terra o conceito de "in-house". Ora, se algo é desenvolvido com elementos disponíveis no mercado, é tudo, menos "in-house".
Talvez o termo mais honesto seja "owning patent", ou algo semelhante. Deixa claro que foi desenvolvido na casa X, mas que sua elaboração e composição agrega elementos de vários fornecedores (ainda que - insisto - um ou outro tenha especificações exclusivas; mas todos, não).
Sobre o caso da Panerai (ou da Tudor), tenho muitas dúvidas sobre a real derivação para o desenvolvimento de calibres próprios. Necessidade de oferecer algo "exclusivo" por conta de uma percepção de mercado? Necessidade de baratear custos? Necessidade de apresentar algo mais moderno? Necessidade de depender menos de fornecedores externos para peças fundamentais?
Basta jogar todas essas "necessidades" sob uma expressão mágica ("in-house"!), e adentra-se ao Olimpo.
Sobre sua observação a respeito do Ingenieur, não necessariamente passou de cavalo a burro. A alteração é relativamente recente e, tirando os purismos e as precipitações que costumam envenenar qualquer debate, creio que ainda não seja possível realizar uma avaliação desapaixonada. Quem sabe daqui a cinco anos cheguemos à conclusão que nada se perdeu, que o cavalo continua cavalo, apesar do Selitta que vem dentro.
Meu Navitimer tem uma 7750 dentro, e estou imensamente satisfeito com ele. Nem me preocupo com o fato de existir o B01. Não o comprei por causa disso.
Uma observação final: o Fiat Dino tinha motor Ferrari, o mesmo seis cilindros que equipava as Dino, com algumas modificações que o tornava mais eficiente que o utilizado na "nave-mãe".
(No You Tube tem um episódio da Petrolicious que trata disso.)
O Fiat Dino pode até ter fracassado, mas que é um clássico, nem tenha dúvida.
Dic