Pô Dic, mas aí você, como diria um ex professor, o Rogério Greco, enfraquece a amizade! Eu prefiro acreditar ou pelo menos trabalhar com dados "oficiais" a imaginar hipóteses. Eu nem procurei muito, mas veja nessa reportagem - vá lá, a Raymond Weil é de entrada - que os relógios femininos representam a maioria do giro. Hermés? 80%
http://www.businessoffashion.com/articles/intelligence/watch-brands-find-growth-in-the-womens-marketOu... Que confirma o que eu disse sobre a Patek
http://in.reuters.com/article/watches-ladies-idINDEEA3504B20140406Enfim, a perda de mercado da Rolex num país de terceiro mundo, ou seja, mercado não maduro, não tem nada de inaudito, é o caminho natural das coisas. No mercado não maduro, como muito bem abordado no livro A Time to Change, que foi escrito pouco depois da crise de 2008, as pessoas adquirem bens de luxo não para demonstrarem seu individualismo, mas para mostrarem aos outros o quanto possuem na carteira. É por isso que nos mercados não maduros os produtos de luxo que fazem a cabeça da classe mais abastada tendem a ser os "tradicionais", os facilmente reconhecíveis como tal pelos consumidores. À medida que o mercado vai amadurecendo, as pessoas vão "descobrindo" novas marcas. Nesse sentido, a tendência é cada vez mais o consumo se pulverizar entre outros players. E veja, eu sequer estou falando que a Cartier tenha deixado de ser um player significativo em terceiro mundo, se comparada à Rolex, porque a sua penetração sempre foi global. Mas para citar um exemplo, peguemos a Omega. Ora, enquanto a Omega era A MARCA até os anos 70, aquela a ser batida, as presepadas dos anos 80 fizeram-na perder pelo menos uma geração de consumidores.
Falando sério... Eu tenho 40 anos e já nasci ouvindo falar que Rolex era O RELÓGIO, sem competidores. Mas e meu pai? Meu pai não tinha essa percepção, relógio para ele era Omega, assim como para meu avô. Tanto é verdade que naquele jantar que tivemos com o CEO da Omega, ele disse que o que alavancou as vendas da boutique de Brasília foram os saudosistas que entravam na loja, pessoas mais velhas, buscando "o Omega ferradura da sua juventude". A Omega, pois, deixou de ser percebida entre homens da minha geração e, com muito mais razão, mulheres, como algo "que bota banca" em terceiro mundo.
Mas hoje, com o amadurecimento normal do mercado, essa percepção está ressurgindo ou surgindo em relação a várias outras marcas.
A mulher que quer botar sua primeira "banquinha" no mundo das bolsas, por exemplo, compra uma Luis Vitão. Depois de já ter tido algumas, ela percebe que botar banca não é o paranauè, mas distinguir se entre "azamigas" com uma Gucci sei lá o que. Mesma coisa com os relógios... No mercado maduro, entenda-se, Europa, a assertiva não é verdadeira, porque "azamiga" e "ozamigo" já tinham acesso a outras marcas há décadas e já tinham tido sua primeira experiência com as marcas tradicionais.
A vantagem da Rolex, falando especificamente sobre ela, é que a marca é a "casa da mãe joana" da relojoaria, aceita qualquer um, do neófito não sabe nada que quer tirar onda de rico, ao entendido que visitou a fábrica como eu e que consegue ver além disso. Visitei entenda-se: fui na porta... hahahahahah
Em resumo, acredito sim que a tendência de todas as marcas de luxo "top of mind" seja perderem mercado à medida que o poder de compra e contato de uma sociedade que está evoluindo economicamente permita. O consumidor tira onde que só usava canetas Mont Blanc irá experimentar uma Pelikan; o cara que só tinha Rolexes, irá de novo, como seu pai no passado, comprar um omeguinha; e as mulheres, que só usavam relógios Máiquel Cors, irão comprar seu primeiro Cartier....
Flávio