O melhor (ou menos pior...) método para se aferir o custo de bens no passado e em outros países é a comparação com o salário mínimo vigente da época. Pesquisando, descobri que o salário mínimo brasileiro em 1998 era de 130 reais. Ou seja, o Speedmaster que minha mãe comprou custou 11.5 salários mínimos da época, quantia de modo algum não significativa, tanto é que minha mãe teve que ralar para conseguir isso. Trocando em miúdos: um trabalhador não qualificado da época precisaria trabalhar um ano para conseguir ter acesso a este tipo de bem.
Convertendo em "moeda" atual (o salário mínimo está por volta de 1200 reais), teríamos um valor "atual" quase na casa dos 15 mil reais, o que é muita grana. Vejam: quando disse acima que o método de conversão por poder aquisitivo é o menos pior, é porque ele costuma acompanhar a "evolução" social do período, não apenas a inflação. Digo isso porque, a título de exemplo, o salário mínimo brasileiro subiu em quase todos os anos acima da inflação e, ao contrário do que muitos dizem, houve sim uma diminuição do "gap" entre a remuneração dos trabalhadores qualificados e não qualificados (o problema, no Brasil é que eu não acredito que isso ocorreu por um aumento na base, mas por uma diminuição no topo hahahahahaha. Eu mesmo, se tivesse o salário vinculado ao mínimo, estaria ganhando, sem brincadeira, uns 50 mil reais por mês, e nem em sonho, mas nem em sonho chego perto disso...).
Mas voltando ao assunto, relógio suíço nunca foi barato. Um ano de trabalho para comprar um simples Speedy é MUUUUUUUUUUUITA coisa! É grana em qualquer época!
E então chegamos aos dias atuais, nos quais um Speedy atual custa uns 50 mil reais, se não for mais, ou seja, uns 40 meses de salário de um trabalhador não qualificado... Há duas coisas a se considerar aí: houve sim um aumento ACIMA da inflação (suíça) dos relógio, pois um Speedy custava 1500 dólares há 20 anos, hoje custa lá uns 6 mil. Nem em sonho a inflação suíça chegou perto de triplicar valores de bens. Sobre a desvalorização do real, prefiro nem comentar...
E aí começou a ocorrer, algo que me tirou da relojoaria, para mim foi game over, um TOTAL DESCOMPASSO entre o que você compra e espera receber e o que recebe pelo que paga. Gente, para mim, o meu Speedy é um produto que custou 1500 dólares, convertido para valores atuais deveria custar (a preço da época, como expliquei acima), uns 15 mil reais e... Eu não consigo sequer ver 15 mil reais no troço, no máximo, com muita fé, uns 5 mil e olhe lá! É uma porcaria de produto feito em massa aos quintilhões, com cristal de plástico, um monte de peças estampadas, nada de metal precioso e... Custa 50 mil hoje hahahahahahahahahahahahahah Puta que pariu!
O mundo da relojoaria atual só não é mais estúpido e bizarro do que o dos vinhos (sim, eu também manjo um pouco do riscado...), no qual você paga 500, 1000 reais (sequer vou entrar na seara dos vinhos ultra caros...) num troço feito por algum fazendeiro (que propagandeia ser um "mago"...), espera ter uma experiência de 2, 3 horas de 500, 1000 reais e... Enquanto bebe pensa: é isso mesmo? É isso mesmo? Eu preferia ter comprado um tonel inteiro de cana brava pelo preço, ficado ultra bêbado e teria uma experiência transcendental muito melhor! Mas vai falar com o bando de enoidiotas que infestam o meio do vinho que nada vai te entregar mais do que 500 reais, ainda que você gaste 500 mil. Fala isso para um milionário...
É a mesma coisa no mundo da relojoaria. Quer comprar? Compre. Mas não espere muita coisa, pois vai se decepcionar.
Flávio