Mas eu fiquei com uma dúvida, de verdade, Paulo.
No teste, na competição, há que ter uma certa técnica, claro!
Coisas como empunhar corretamente, fazer um movimento apropriado, não?
Sim Alberto, existe uma técnica correta para se efetuarem estes cortes "extremos". E vou te dizer, não é nem um pouco fácil... Mas o pior de tudo é o dia seguinte: os músculos do ombro ficam literalmente "em farrapos"...
Você pode ler um pouco mais sobre as competições de corte neste link:
http://www.blademag.com/article/WorldCuttingChampionshipPreview/Paulo, acho que vc não entendeu o que eu escrevi. Não disse que a faca não corta, mas sim que usar papel (e corda de sisal também), "gasta" o fio por causa da sílica. Se vc quer testar (e a palavra principal aqui é "testar") a afiação precisa do fio de uma faca, e não provar do que ela é capaz (lembra do Zakharov cortando arame?), papel (ou sisal) não é o mais indicado. Se for do aço correto e for bem afiada, qualquer faca artesanal ou industrial corta de papel a sisal a bambu a arame. Porém se a faca consegue cortar sisal não significa que a faca consiga "fazer a barba".
Entendi sim, amigo Luciano. Você tem razão quanto ao conteudo de sílica no papel. E de fato esta sílica irá diminuir o poder de corte de uma lâmina. Isto é sensivelmente visível em facas de aço inox industriais.
Porém, em uma faca artesanal, o cuteleiro busca um compromisso muito maior com a durabilidade do fio de uma faca do que aquele encontrado numa faca industrial.
O corte de papel e de sisal são apenas dois dos testes a que são submetidas uma faca artesanal. A sequência completa é:
1º - corte de papel. O corte deve ser limpo, não sendo admitidas bordas serrilhadas.
2º - corte da corda de sisal. O objetivo deste teste é verificar se o fio possui geometria adequada para permitir um corte potente. Também serve para verificar se a têmpera está adequada para manter um fio duradouro.
3º - corte de caibro de madeira nas dimensões de 10 cm x 5 cm. Este teste é o extremo oposto do teste da corda. O objetivo é verificar se a lâmina possui resistência a impactos e se o fio é duro o suficiente para não se deformar.
4º - corte de papel. A faca deve novamente cortar papel em corte limpo, sem deixar rebarbas serrilhadas.
Todos estes testes são efetuados em sequência, sem nenhuma afiação intermediária. Numa competição, nem mesmo a mão pode tocar a lâmina. Basta um toque e o competidor é desclassificado.
De tempos em tempos, um bom cuteleiro deve ainda efetuar um teste adicional, obviamente que em uma faca que não será comercializada: o teste de dobra.
Este teste é feito após todos os testes anteriores e consiste em prender a lâmina em uma morsa e dobrá-la até atingir o ângulo de 90 graus. É admitida uma quebra na área do fio de no máximo 1/3 da altura da lâmina, embora o preferencial é que não haja nenhuma quebra.
E veja bem, isto tudo não tem nada a ver com demonstrações circenses. São testes reais a que são submetidas facas artesanais de uso normal. Todas as facas que eu faço passam por estes testes (menos o de dobra - naturalmente...).
Pode parecer um absurdo a primeira vista, mas não é na realidade. É só pensar da seguinte maneira: qual o objetivo de se comprar uma faca artesanal, que custa no mínimo 10 vezes mais que uma industrial (sendo que algumas podem atingir valores na casa dos milhares de dólares)? Simples. É porque ela é superior àquelas industrializadas. Mas como ter certeza disto? Ora, testando...
E me permita uma pequena correção: uma faca só cortará sisal (corda de sisal de 1 polegada, pendurada solta, com corte a menos de 30 cm da ponta) se estiver barbeando. Mas nem toda faca que está barbeando conseguirá executar o mesmo corte...