Tá, achei a minha mensagem, do fim de 2011:
Citação de: Cigano em 21 Dezembro 2011 às 23:25:21
Pelo que você informou, está dentro dos padrões COSC, pois a variação aceita é de -4s / +6s por dia !!
Mas aí que tá: só porque um relógio está com marcha, aleatoriamente, em qualquer posição, entre -4 e 6 s/dia não significa que ele está dentro dos padrões COSC.
Essa provavelmente é a maior lenda da história da relojoaria, e vejo muita gente entendida, em fóruns internacionais, dizer a mesma coisa. Não tem nada a ver. Um relógio que faz qualquer coisa dentro de -4 e +6 s/dia na verdade não quer dizer absolutamente nada.
Acho inclusive lamentável a maneira como algumas marca propagandeiam, na minha opinião de maneira enganosa, que o COSC é "apenas" estar entre -4 e +6 s/dia. Pois induz o cara a exatamente esse erro: ele leva o relógio dele para casa, fica um dia observando e se depois de 24 horas der qualquer coisa entre -4 e +6 s/dia, o cara fica satisfeito, pois falaram para ele na hora da venda que isso é ser COSC. Acho isso criminoso, mas não é essa a discussão...
Sem contar o tanto que isso banaliza o COSC: faz parecer que o COSC é só um caboclo que fica lá olhando os relógios em cima de uma mesa e depois de um dia, diz se é COSC ou não. Parece ser só isso.
Aliás, na Pulso que chega nas bancas nos próximos dias, fiz uma tradução de um texto bem legal da Elizabeth Doerr, sobre cronômetros. Recomendo a leitura pois dá uma idéia de como o COSC não é só um caboclo que fica lá olhando relógios...
A primeira pergunta, que quase ninguém sabe responder é: os -4 e +6 s/dia do COSC se referem a que? A que marcha? Em que posição? Em que situação? Quase ninguém sabe então aproveito para explicar um pouco.
O tal critério do COSC de -4 e +6 s/dia refere-se à marcha diária média em 5 posições diferentes. Isso é medido ao longo de 10 dias de teste, os 10 primeiros dias para ser mais exato. Medir a marcha depois de um dia, em qualquer posição e ter um resultado dentro de -4 e +6 s/dia, logo, não tem nenhuma comparação com o mesmo critério do COSC. E além disso, para se dizer que um relógio está dentro dos parâmetros COSC, ele precisa atender a mais seis parâmetros. Todos são eliminatórios. Os sete parâmetros são (e comparando-se com os do Grand Seiko, como curiosidade):
1 - Marcha diária média entre -4 e +6 s/dia (-3 e +5 s/dia para o Grand Seiko). É calculado tirando-se a média de marcha dos 10 primeiros dias de testes (12 dias para o Grand Seiko), ou seja, em cada uma das 5 posições (6 posições para o Grand Seiko) a 23ºC e um dia com corda cheia, outro dia depois de 24 horas.
2 - Variação diária média máxima permitida de 2 s/dia (1,8 s/dia para o Grand Seiko). É a média das diferenças de marcha entre o primeiro e o segundo dia em cada posição, ou seja, a marcha com corda cheia e a marcha depois de 24 horas.
3 - Variação máxima permitida de 5 s/dia (4 s/dia para os Grand Seiko). É a diferença máxima de marcha medida entre os dois dias numa mesma posição.
4 - Diferença entre posições verticais e horizontais entre -6 e +8 s/dia (igual para o Grand Seiko). É a diferença entre a média de marcha dos dois dias com coroa para a esquerda e a média de marcha dos dois dias com mostrador para cima. É um dos parâmetros mais eliminatórios. Se o relógio não for bom, não passa.
5 - Maior diferença entre a marcha diária média e qualquer marcha, com máxima permitida de 10 s/dia (8 s/dia para os Grand Seiko). É a maior diferença de marcha entre o resultado do critério "1" e qualquer uma das marchas.
6 - Variação de marcha por 1ºC máxima de +/- 0,6 s/dia (+/- 0,5 s/dia para o Grand Seiko). É o desvio de marcha durante o teste de temperatura, primeiro a 38ºC e depois a 8ºC. Pega-se a marcha a 38ºC, subtrai-se a marcha a 8ºc e divide por 30.
7 - Resumo de marcha máximo de +/- 5 s/dia (igual para o Grand Seiko). É calculado subtraindo-se a marcha diária média dos dois primeiros dias de teste da marcha do último dia de teste.
Se o relógio não atender a qualquer um desses parâmetros, ele NÃO É COSC nem está dentro dos parâmetros do COSC. Como podem ver ainda, os critérios são os mesmos para os testes dos atuais Grand Seiko, mas com tolerâncias mais estritas.
É impossível reproduzir esses testes em casa, logo, qualquer teste caseiro e mesmo com aparelhos como o que usamos em assistência técnica não reproduzem o teste do COSC e por isso não é possível avaliar se um relógio está dentro ou não dos parâmetros.
O máximo que pode-se fazer é tentar reproduzir o teste posicionalmente e tentar calcular os números. Mas tem que ser muito rigoroso, dando corda máxima a cada dois dias, sempre no mesmo horário, ou seja, a cada mudança de posição, e deixando o relógio religiosamente por dois dias em cada posição, e ir anotando a diferença notada pelo ponteiro de segundos comparando-se com uma base confiável. Anota-se religiosamente no mesmo horário, todo e a cada dia, o desvio apresentado e no fim faz-se as contas. Logo, precisará de 10 dias para fazer tudo. Haja saco e mesmo assim, será um teste bem falho, sem teste de temperatura, sem a temperatura adequada para os testes, entre vários outros fatores impossíveis de controlar em casa.
É mais fácil levar numa oficina boa com aparelho de testes moderno e obter o resultado em cada posição num teste que leva cerca de 5 minutos.
Abraços!
Adriano