Resolvi pegar meu notebook a escrever respostas pelas metades. Pois bem. Vamos analisar o óbvio da nossa legislação consumerista, que de qualquer forma é bem lógica.
Nenhuma garantia é eterna, A NÃO SER QUE A FÁBRICA, por uma relação contratual, assim o defina. A Rolex "firma" um contrato com seus consumidores garantindo, nos moldes do óbvio, como disse o Adriano, garantia de dois anos. Mas há algumas fábricas por aí que garantem seus produtos pela eternidade. Querem exemplos? Fábricas de bicicletas. Normalmente fábricas de bicicletas garantem seus quadros por toda vida. Mas isso não autoriza o proprietário a usar, abusar e quebrar propositalmente o quadro para ganhar outro. Não vou entrar no casuísmo.
Outra coisa completamente diferente é a empresa garantir peças de reposição, AINDA QUE FORA DA GARANTIA, para que o reparador possa fazer o serviço. Nossa lei exige pelo menos 10 anos de peças de reposição após o fim da fabricação do produto. Na indústria relojoeira, porém, vão além, e costumam guardar por décadas!
Pino de pulseira... Imaginemos que você comprasse um carro, um Golf GTI turbo, e este apresentasse apenas defeito no turbo. Você, em regime de garantia, teria direito a outro carro? Não, é claro que não. Portanto, se uma peça apresenta defeito, a obrigação da fábrica é reparar o bem ao estado original, no caso do seu exemplo, trocando apenas o elo.
O tal depende que eu disse, mas que já foi discutido no tópico ressaltado, mas que resumo aqui. Vamos ao óbvio. Imaginemos que seu carro (os exemplos com carros são sempre claros...) apresente defeito na dobradiça do capô. Pode a concessionária obrigá-lo a retificar o motor? Não, claro que não. Isso é óbvio e nossa legislação inclusive tem norma expressa que veda as chamadas "vendas casadas" (que incluem, é óbvio, para repetir a palavra, serviços "casados" desnecessários).
O problema é que a nossa própria legislação criou um... Problema para os reparadores. Exige-se, também, garantia de serviço prestado.
Partamos para os relógios. Imaginemos que o Rolex apresente, COMO NO SEU EXEMPLO (e aqui estou sendo casuísta, nesses casos não tem como não ser...), defeito específico na coroa. O que se deve fazer para substituir uma coroa? Abertura do relógio, desmontagem da tige, coroa, e mecanismo anexo (keyless). No seu caso, é fácil separar "sistemas" no relógio. Não é necessário de modo algum tocar em qualquer outro sistema a não ser o de keyless, afinal, só coroa quebrou.
Trabalho? Troca da junta, se necessário, lubrificação de todo sistema keyless e troca da coroa. Você não precisa desmontar platinas, escapamentos, etc, para trocar uma coroa.
Imaginemos, porém, que seja necessário trocar a roda de centro. Para acessá-la, você deve desmontar TUDO! Não tem como. Então, o serviço de troca da roda envolve, NECESSARIAMENTE, a desmontagem e consequente revisão de todo movimento.
O problema para a concessionária de serviços é a tal garantia... Imaginemos, no primeiro caso, que o relógio apresente defeito, dois meses depois da troca da coroa, no escapamento. E aí? Você estaria coberto pela garantia de serviço? É óbvio que não, porque nem mexeram no escapamento!
A garantia que tem é da troca da coroa e serviços anexos.
Mas como especificar isso se por política de marca eles inventaram a "renovação" da garantia de dois anos para a revisão completa, que acabam exigindo que você faça, tanto para resguardo deles (afinal, se acontecer algum problema, eles de fato sabem que a culpa é deles, e não um defeito preexistente) como seu?
Há um choque aí, que deveria ser resolvido, como EM TODO SERVIÇO, com um contrato claro, que assegurasse tanto a empresa de litigantes de má fé, quanto o consumidor, que não pode ser obrigado a pagar a maior pelo que precisou fazer.
Por isso o depende. Há coisas que são óbvias. Se acontece algum problema no bracelete de um Rolex, não podem te cobrar uma revisão geral para repará-lo e, como disse no looooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooongo tópico Omega, se assim o fizessem, eu os processaria de forma tão intensa que, enterrados, precisariam de arqueólogos para se encontrarem de novo. E creiam, no meu caso, seu eu precisasse colocar o MP inteiro para isso, por ser política de empresa claramente em afronta a nossa legislação, eu o faria.
Mas imaginar um defeito no bracelete, num cristal, numa caixa, etc, ou mesmo na tal coroa, é algo simples. Mas e a "penumbra"? Na relojoaria, até mesmo pelas diminutas tolerâncias, é difícil, para não dizer impossível, detectar o problema sem desmontar tudo. Ou seja, o serviço para descoberta do problema é necessário e deve ser cobrado. E depois de feito, como a empresa teve que desmontar tudo, TUDO será garantido, até mesmo porque eles querem se prevenir de consumidores que depois venham alegar que surgiu outro defeito, não porque havia defeito, mas porque o relógio foi reparado de forma incorreta.
Eu sei que isso não é feito assim em todas as fábricas, mas o óbvio é o seguinte: se é possível claramente separar, desmontar e revisar o sistema onde o problema ocorreu, apenas isso deve ser cobrado E APENAS ISSO GARANTIDO. Afinal, uma fábrica não pode garantir na troca de um elo defeituoso, no seu exemplo, um problema no interior do relógio.
Em suma, o depende é depende mesmo e DEPENDENDO da fábrica (para esculhambar a frase de vez), eles acabam fazendo vendas casadas para se prevenir de futuras ações de consumidores e vira tudo uma zona.
Cada caso, portanto, é um caso e, especificamente quanto a Rolex, que eu saiba ninguém nunca precisou fazer revisão geral para trocar um elo quebrado. Por outro lado, não acharia desarrazoado cobrar revisão total para troca de uma roda. Por outro lado também, há uma linha tênue aí, como trocas de coroa: salvo engano o Adriano acha que esse serviço não deve ser cobrado de forma parcial, porque a fábrica irá garantir tudo novamente, no prazo contratual, não legal. Eu já discordo. Essas questões deveriam ser resolvidas com especificação clara do problema e garantia específica, QUANDO POSSÍVEL. Mas não vou voltar no conceito do quando possível, porque aí retornarei ao... Depende.
Sacou? Rogo a Deus, no entanto, que este tópico não se transforme em outro "preço revisão Omega", caso contrário vou fundir os dois.
Esse assunto gera discussões intermináveis, sobretudo quando entro no meio, porque não concordo com muita coisa praticada pelas autorizadas no Brasil.
Flávio