Apenas para pensar sobre alguns atores dessa confusão, porque ninguém vai chegar a conclusão alguma, nem terá qualquer solução para apresentar. Porque se fosse fácil, e os interesses individuais não fossem tão divergentes, a paz seria um objetivo fácil de atingir.
Estado Islâmico – Congrega vários “estadinhos islâmicos”, cujo único traço de união é a contradição em si mesma. Vejamos: parte deles é de ex-combatentes das guerrilhas xiitas que ajudaram a derrubar o regime de Saddam Hussein, que era sunita e os esmagava, no Iraque (eram bancadas pelo Irã, berço xiita); outra parte também é de ex-militares do próprio Saddam!
Não, não se converteram para o braço sunita do Islã. Estão nisso somente por grana. São os caras que controlam a venda do petróleo contrabandeado, a venda das obras de arte roubadas de sítios históricos e museus, a compra de armas no mercado negro e os treinamentos militares dos recrutas.
As escravizações de yazidis, de curdos, os estupros, os assassinatos, as decapitações, isso fica para o ramo mais aparente do Estado Islâmico, composto de inúmeros europeus (sobretudo franceses, belgas e britânicos) e asiáticos (chechenos principalmente).
Sobre os asiáticos, já há registro de chineses da região de Xinjiang nas fileiras do EI – o que vem deixando Pequim de cabelo em pé, temerosa de a etnia uigur (muçulmana) importar jihadistas para o projeto de independência.
Síria – O coronel Hafez Assad tomou o poder em Damasco, em 1971, apoiado pela antiga União Soviética. Era o principal personagem, no mundo árabe, que contestava a liderança de Gamal Nasser – tanto que se insurgiu contra o projeto da República Árabe Unida, que dava protagonismo apenas ao egípcio.
Muçulmano alauíta, reduziu ao mínimo a participação política de sunitas e xiitas. Foi comandante supremo das forças armadas e era implacável com qualquer um que contestasse seu poder. Fez do filho, Bashar, seu sucessor, o que desagradou amplos setores militares.
Inicialmente, Bashar tentou enfrentar os militares que o contestavam aumentando os espaços políticos dos sunitas e dos xiitas (aqui abriu as portas para o Hezbollah, que fez do território sírio parte da base de congregação de xiitas do Líbano, da Jordânia, do Iraque e da própria Síria).
Quando viu que a manobra deu errado, fechou novamente com os militares e voltou a perseguir sunitas e xiitas. Eclode, então, a guerra civil. Detalhe: Bashar sempre contou com o apoio de Moscou.
Estados Unidos – Achava que Bashar cairia de podre e bancou vários grupos rebeldes sírios, com armas, dinheiro e assessoria técnica (leia-se: treinamento militar pelas forças especiais). Fechou os olhos para o Estado Islâmico, acreditando que faria parte do serviço.
Mais um erro de cálculo, de vários, da política externa norte-americana. Vejam a merda que deu.
Rússia – Com a China, dava sustentação financeira, técnica e militar a Bashar al Assad. Quando resolveu entrar no conflito da Síria, atacava somente grupos rebeldes que lutavam contra o governo de Damasco. Via o Estado Islâmico com complacência, mas, no momento em que alguns dos seus militantes passaram a fazer o caminho de volta às origens para ataques terroristas no Oeste Europeu, colheu informações que chechenos se preparavam para algo semelhante. Um tanto por interesse próprio e outro tanto porque a França pediu, se juntou na corrente de ataque ao Estado.
França – A pátria da “liberdade, igualdade e fraternidade” tem um histórico de perseguições e de racismo. São vários os instrumentos de cultura que falam sobre isso e alguns estão à disposição de todos. Destacaria o filme “A batalha de Argel”, de Gillo Pontecorvo, que chegou a ser proscrito no Brasil nos tempos da ditadura; e os livros “Diários completos do capitão Dreyfuss” (traduzido aqui pelo Alberto Dines) e “Eu acuso”, do Zola.
Também vale a pena ler qualquer coisa sobre a derrota francesa em Dien Bien Phu. Ou sobre o colaboracionismo da República de Vichy e do Marechal Pétain com os nazistas.
Outro grande livro é “Meu pai, o último dos fuzilados”, escrito por Agnes Bastien-Thiry, filha do coronel Jean-Marie – que tentou assassinar De Gaule por conceder a independência à Argélia. Traça um panorama interessante do colonialismo e do desprezo que a França tem pelos africanos (não apenas os argelinos, mas todos os países francófonos do continente).
O francês médio é católico apostólico convicto (herança do imperador Clóvis, considerado o fundador do país). E tem imensa dificuldade em assimilar o protestantismo (Calvino, francês, radicou-se na Suíça), o judaísmo e até o espiritismo (Allan Kardek era francês).
Tem mais gente para colocar nesse caldeirão. Mas, por ora, fiquemos apenas nestes.
Dic