Bem... tem sempre a diferença entre o marketing bem feito e o mal feito Mentiras e asneiras nem precisa dizer que não dá pra engolir mas, muitas vezes, algo que provoca esta mesma sensação é o marketing feito só de propaganda, sem entregar um produto e/ou uma experiência que esteja à altura do oba-oba (think João Santana/Dilma). Então às vezes o problema é a propaganda e às vezes é a execução do produto/serviço que dá uma rasteira na propaganda.
Cabeças brilhantes de marketing são muito raras no mundo, porque são caras que vão pensar não só no argumento de venda do produto, mas que também tem de ter a capacidade de acertar a promoção, projeto, fabricação, distribuição, venda e pós venda pra garantir que a propaganda que ele fez não se torne uma promessa vazia. Não adianta só pensar na promessa, tem de botar a mão na massa e fazer acontecer (think Comandante Rolim/TAM [ou ao menos a fama dele]). Aqui no Brasil criaram essa expressão "marqueteiro", pra se referir aos (muitas vezes) picaretas que se dispõem a vender, com promessas atraentes e manipulativas, um produto que na verdade é inepto. E isso é a exata antítese do que deveria ser o marketing e o "marqueteiro".
Pelo jeito tem "marqueteiro" na Suíça também (guardadas as devidas proporções).
Aproveitando o gancho do debate, que se ampliou um pouco.
Quem já teve a oportunidade de morar na Europa sabe que ainda impera uma cultura de 60 anos atrás sobre o chamado "Made in Japan". A explicação é simples.
Depois da II Guerra, a Europa era uma miséria só. Era caríssimo produzir no continente e o produto americano era proibitivo. Na Alemanha Ocidental, ou se fazia casas ou aço. Basta estudar o Plano Marshall e ver que a capacidade industrial europeia do Oeste (o Leste mergulhou na tragédia do comunismo) só atingiu a plenitude 25 anos depois de terminado o conflito.
Uma das soluções comerciais foi estreitar laços com o derrotado Japão, cuja capacidade industrial não chegou ao ponto de dizimação da Europa. E também porque, para os americanos, era mais barato injetar dinheiro lá que na Europa. Isso o general MacArthur percebeu antes de Truman ou Eisenhower - não estou incluindo aqui o avanço do comunismo na China e a refundação do governo chinês de Chiang Kai Chek em Formosa.
Assim, começaram a desembarcar no Ocidente marcas como National, Mitsubishi, Hitachi, Toshiba, Pentax, Nikomat, Seiko, Citizen, Yamaha, Honda... Mas, na Europa, eram consideradas de baixa qualidade. "Made in Japan" era um palavrão.
Se de início a ideia dos japoneses era suprir a demanda de qualquer jeito para fazer divisa, com o tempo foram suprindo mas com aumento da qualidade. Nisso, o preconceito estava instalado.
Qualquer semelhança com a China hoje não é mera coincidência.
Alguém já se deu conta que o melhor tenista do mundo é patrocinado pela Seiko? E que a Citizen cronometra o Aberto dos Estados Unidos (estou citando de memória, pode ser que aqui tenha errado; se errei, corrijam por favor.) Isso num ambiente esnobe, em que imperam marcas como Rolex, Rado e Longines, que me ocorrem agora.
E sabem o que a Seiko pensa desse preconceito? Deve achar a maior graça...
Aliás, só a Seiko não. A Yamaha, a Nikon, a Toyota, a Onitsuka, a Tama - todas tão tecnologicamente avançadas e poderosas quanto as principais marcas europeias e americanas.
Um dado final: um dos maiores álbuns de rock gravados ao vivo, o "Made in Japan", do Deep Purple, tem esse nome exatamente porque os integrantes da banda não botavam muita fé nos shows que fariam em Osaka e Tóquio. Uma brincadeira preconceituosa com algo que ia ser lançado somente no Japão.
Nem preciso dizer que aconteceu exatamente o contrário.
Dic