Que o 7Sxx trabalha muito bem no pulso ou fora dele, também nunca foi discutido. Mas se trabalhar bem no pulso ou fora dele é sinônimo de qualidade para você, e ficou claro que é, assim como é para a maioria das pessoas (você não é minoria, eu sou), então o assunto está encerrado. Não há discussão. E ela é óbvia: relógio é feito para marcar horas. Se ele marca horas direito, ele tem qualidade. Ponto final. Fim da discussão. E é isso mesmo.
Fazendo a analogia com automóveis, que sempre procuro fazer. Carros são meios de transporte, são feitos para levar você do ponto A ao ponto B. Se ele faz isso, ele tem qualidade. Ponto final. Assunto encerrado. Certo?
Mas nem todo mundo pensa assim. Uma charrete, um patinete, um carrinho de rolimã, todos eles podem me levar do ponto A ao B. Assim como um Bentley Silver Spur faz a mesma coisa. Será unanimidade que esses primeiros são considerados automóveis de qualidade, só porque cumprem seu papel?
Não vejo diferença com relógios. O 7Sxx mostra as horas, assim como o Omega 8500. Ambos cumprem seu papel. Será ambos de qualidade? A maioria como você pensa que sim.
Eu penso que não. Me levar do ponto A ao B e eu chegar suado, sujo, cansado, com a bunda doendo não é sinônimo de transporte de qualidade, como o que o Bentley me ofereceria. O 7Sxx terminar o dia adiantando 6 segundos, mas por meio de compensações o dia todo, também não é sinônimo de qualidade para mim, como o Omega 8500 faria.
É simples e na verdade eu é que não entendo qual a dificuldade que há entre compreender a minha opinião de que marcar as horas direito, sozinho, não é sinônimo de qualidade.
Agora, sobre isocronismo: que significa "tempo igual". No relógio, isocronismo é a capacidade do balanço de manter a mesma frequência de oscilação independente do arco percorrido por ele. Ou seja, o relógio com bom isocronismo não muda sua marcha se a amplitude do balanço mudar, seja por efeitos externos (aceleração), seja pelo efeito do atrito nos pivôs que ocorre nas posições verticais, seja pela mudança na tensão da corda conforme ele se enrola ou se desenvolve. O relógio com bom isocronismo mantém a mesma marcha entre diferentes posições e diferentes condições de corda. Isso é uma das coisas mais difíceis de se obter em um relógio e só relógios de muita qualidade conseguem isso. Entre todas as posições e condições de corda, um Omega 8500 não apresenta mais do que 5 segundos de variação entre a marcha mais rápida e mais lenta.
É exatamente o que o 7Sxx não apresenta. Seu isocronismo beira o ridículo, a marcha chega a flutuar mais de 15 segundos entre posições e mais de 30 segundos em diferentes condições de corda. Isso é sinônimo de má geometria do escapamento, má qualidade na superfície dos pivôs, má qualidade no ajuste da profundidade de bloqueio das levés, má qualidade da calibragem da corda, no mínimo, e mais umas coisas aqui ou ali. Em resumo, má qualidade.
Como se afere isso? Peque um aparelho de teste e um relógio parado. Dê um pouco de corda, o mínimo para ele funcionar, de modo que ele funcione a cerca de 180º de amplitude, e teste a marcha dele em 6 posições, e anote todas as marchas, a média de todas elas e a variação entre a mais rápida e a mais lenta. Dê mais corda dele, para a amplitude atingir algo em torno de 220º (ou 240º num relógio de qualidade, já que o 7Sxx nem sempre passa de 250º nem quando novo...), e refaça o teste. Pergunta: dar corda como, se ele não tem corda pela coroa? Abra a tampa e conte que a corda completa deve se enrolar em algo em torno de oito voltas da àrvore. Então, dê uma ou duas volta diretamente no parafuso da rochet para o primeiro teste. Depois mais duas voltas para o segundo, e por aí vai.
Voltando, depois dê corda total até a brida deslizar e teste imediatamente. E anote denovo todos os resultados. E por fim, faça o teste de como ele deve estar quando usado no pulso: dê corda total e espere uma a duas horas para fazer todos os testes.
No fim, compare todos os dados, e verá que a variação (diferença entre marcha mais rápida e mais lenta) é alta, passando fácil de 10 segundos em todas as condições de corda. O que por si só, revela o péssimo isocronismo posicional. E depois compare as médias de marcha em todas as condições de corda, e verá que em cada condição terá uma marcha média totalmente diferente uma da outra, e a diferença entre a média mais rápida e mais lenta será também muito grande. Não se espante se numa condição de corda ele atrase 10 s/dia e em outra ele adiante 20 s/dia.
E por fim, compare principalmente os resultados dos dois últimos testes, ou seja, compare os resultados e principalmente as amplitudes que se obtem com a corda totalmente cheia e o teste imediato com o teste de corda cheia após uma a duas horas de descanso. Não estranhe se a amplitude bater nos 280º no teste imediato e depois de uma hora tenha caído para 250º. Parece piada, mas isso acontece no 7Sxx (tão bem quanto no 6R15).
E quando terminar tudo, bote ele num teste de longa duração num Chronoscope, por exemplo, e deixe lá por uns 20 minutos, e tenha o dessabor de ver o quanto a marcha e a amplitude flutuam num intervalo tão pequeno. Fruto de má qualidade de execução, tolerância ruim de centralidade da rodagem e folgas verticais e horizontais, e lubrifricação deficiente, para dizer o mínimo.
Então, é assim que se avalia o isocronismo de um relógio, coisa que já fiz algumas vezes (nos meus e nos de terceiros) em 7Sxx, e que me fizeram chegar à minha opinião de que não é um movimento de qualidade.
Obs: isso estou falando meramente sobre precisão. Vale lembrar que tenho nove, e já tive mais uns três que vendi. Dois deles (não foram os que vendi, mas os que tenho ainda) tiveram problemas de carregamento. Estamos falando de um dos sistemas de carga mais eficientes que há conceitualmente. Mas dois deles simplesmente tinham graxa demais na roda auxiliar e que se misturou com a limalha que solta pela má qualidade de material, que gastou, em meses, o que deveria levar décadas para gastar. Em ambos tive que limpar e lubrificar o sistema de carga para que voltasse a funcionar normal. Um voltou, outro sofreu tanto desgaste que ficou meio capenga. Estamos falando em dois, entre doze. É muito.
Abraços!
Adriano