Bom dia
Acho relevante dizer que um certificado de controle de qualidade não se traduz em durabilidade e/ou precisão.
O termo qualidade para a ISO por exemplo, significa conformidade com os padrões estabelecidos, ou seja, se eu estabeleci como padrão produzir um movimento 100% estampado, com um rotor cheio de rebarbas e uma precisão de +-10min/dia, ok, eu preciso entregar um produto fabricado em prensas com o rotor com rebarbas e uma precisão dentro da faixa indicada.
Sei que muitos sabem disso, muitos sabem até mais sobre o tema do que eu, mas fico com receio de alguém pagar um "plus" em razão de um papel que na prática pode se traduzir em um relógio ruim COM um pedaço de papel com um pouco de tinta aplicado sobre a superfície.
Adriano, você já viu ou conhece algum movimento com precisão padrão COSC, mesmo que sem o certificado, porém com peças estampadas ao invés de usinadas?
Sim, hoje há muita peça estampada em mecanismo fino. O que eu aprendi nesses anos é que peças estampadas tem um estigma - justificável - de serem piores. A explicação é simples: dependendo da tolerância dimensional que você precisa, o processo de estampa não é capaz de atingir, como em uma peça que passa por usinagem. A estampa também pode enfraquecer alguns pontos da peça, pois estira o material, etc. etc. etc. Porém é um processo muuuito mais barato, pois envolve menos etapas.
Ocorre que hoje conseguem fazer peças estampadas com muita precisão, que dispensa o uso de uma peça usinada no lugar. Peças chave. Exemplo que me lembro rapidamente é a ponte da âncora dos mecanismos Tudor de manufatura. É uma peça chave. Fora da tolerância, o relógio simplesmente não funciona (pois uma das dimensões mais "delicadas" e críticas do relógio é a penetração e segurança da interação roda de escape x âncora, e ela começa com uma ponte bem feita). Mas os caras fazem, e para o volume de produção que pretendem, se dá para fazer assim, eles vão fazer. Omega 8500 tem uma porção de peças estampadas. Em muitos casos é até inteligente fazer assim, você consegue fazer em uma peça só o que precisaria ser separado em 2, 3, 4, 5 peças se fossem usinadas. É experto, é fácil de montar, é mais robusto...
Então não creio hoje, como já pensei no passado, que isso seja exatamente um demérito ou que comprometa a qualidade e precisão do mecanismo. O problema é você usar peças estampadas em ponto que necessitariam de tolerâncias mais rígidas. Isso acontece direto com mecanismo mais barato. Peças críticas são estampadas e chega em um limite que ou você fica com tolerâncias amplas, mas funciona (tipo Seiko 7S26), ou o troço começa a dar um índice alto de defeitos insolúveis (muitas máquinas chinesas).
E escapamento não tem milagre. E no padrão que os caras estão fazendo hoje (aí, vide Omega 8500, por exemplo), nem usinagem serve mais: os caras usam processo LIGA em peças críticas.
Abs.,
Adriano