Como prometido, mais um boletim de marcha de um dos meus relógios. Este relógio foi revisado há aproximadamente seis meses e, conforme demonstrado neste tópico
http://forum.relogiosmecanicos.com.br/index.php?topic=5765.0 não estava lá em bom estado. O movimento, porém, tinha potencial. Apesar de o sistema de carregamento dele ser um tanto quanto ineficiente para o meu uso (Magic Lever, mas comigo não funciona muito bem), sempre foi meu relógio mais "preciso". Calibre 137 feito em casa, 28800 bph, certificado como cronômetro.
Notem que, recentemente revisado, as amplitudes eram cerca de 20 graus maiores em todas as posições, o que já não ocorre atualmente, mesmo após pouco mais de seis meses de uso (e pouco uso). Ah, por que o relógio retornou para revisão? Na verdade, cerca de 4 meses após a revisão, o parafuso de fixação da ponte do magic lever soltou-se e foi parar no balanço, travando todo o relógio. Remeti-o novamente apenas para recolocação do parafuso, o relógio não foi novamente revisado.
Ei-lo, em foto tirada hoje, com boletim de marcha de outubro.
Irão notar que a amplitude ainda está bastante razoável. Em um relógio recentemente revisado - e aqui sou mais flexível do que o Adriano - a amplitude deve ficar entre 270 a 300, 310 graus nas horizontais. Não acho que o simples fato de a amplitude cair nestas posições abaixo dos 270 já exija uma revisão. Na verdade, no meu relógio, recentemente revisado, ela não passava de 300. Porém, vejam os dados, e observem a absurda constância que este movimento, mesmo tendo apresentado alguns probleminhas na revisão, denota:
- Nas posições horizontais, simplesmente não há qualquer diferença de marcha: ele adianta 3 segundos. Pior: a amplitude é praticamente a mesma, o que indica que não há qualquer problema em pivô, lubrificação, espiral, etc. Perfeito.
- Nas posições verticais, observa-se certo decréscimo de amplitude, o que é normal, considerando que, agora, o pivô do balanço se apoia sobre área de contato maior, e consequentemente, com o maior atrito, a amplitude cai. E cai no máximo 40 graus, o que é normal. Podem dizer que na posição coroa para baixo, ele já está quase no limite do que deveria se encontrar em um relógio recentemente revisado (cerca de 230 graus). Correto, mas ainda não chegou lá. De qualquer forma, observem que, mesmo com um decréscimo de amplitude, a marcha não variou muito, o que indica bom isocronismo do relógio. O curioso - e aí peço ajuda aos universitários, mas também não é anormal isso - é que em duas posições verticais ele está mais lento, não rápido, o que seria o "normal". Porém, quando falamos em variação em posição, não é apenas o atrito e decréscimo de amplitude que alteram o comportamento dele mais "veloz". Há o centro de gravidade também.
De qualquer modo, se olharem bem, nas posições mais importantes, que são mostrador para cima e coroa para baixo, não há variação alguma. Teoricamente, levando-se em conta o hábito normal de um usuário de relógio com o pulso esquerdo, este relógio não apresentaria variação de marcha no dia. Teoricamente. Teoricamente ele adiantaria durante o dia, mas de forma regular.
Observem que o delta é de apenas 3.5 segundos, ou seja, entre a posição mais rápida e mais lenta, há uma ínfima variação de 3.5 segundos, o que é muito bom. O delta das posições verticais, por sua vez, não chega a 2 segundos!
Resumindo: apesar de o relógio ter sido fabricado há mais de dez anos, passado por uma revisão mal sucedida e, depois, como demonstrado no histórico da última revisão, apresentando também alguns pontos de desgaste, apresentava "potência". O calibre é bom, seu escapamento é bom. Não é a toa que, desde a fábrica, foi certificado como cronômetro.
Enviado à revisão, foi novamente ajustado e novamente cravou parâmetros que o habilitariam, mais uma vez, a obter um certificado do COSC.
Comparando com os outros dois certificados que mostrei aqui, espero que consigam detectar isso. O Ebel, conquanto revisado há seis meses, tendo lá seus probleminhas, etc, passaria no COSC, mesmo hoje.
Flávio