É difícil, vendo de fora, o que essa depuração pode significar. Quando a empolgação acaba e esse "arrefecimento" acontece, pode significar muitas coisas, mas duas em especial: o colecionismo era uma fuga passageira para alguma coisa, e passou, com arrependimento, às vezes até para sempre. Ou você apenas passou por aquela fase "adolescente" por essa paixão e entrou na fase adulta. O sentimento inicial em ver que o ânimo mudou é o mesmo: é a pergunta "o que aconteceu comigo?". Mas o tempo dirá se o colecionismo era uma fuga que não serve mais ou se você é um apaixonado por relógios que apenas amadureceu.
Se for o primeiro caso, é uma pena, mas se for o segundo, acho extremamente benéfico. Aquela ânimo exagerado pode, na melhor das hipóteses, causar angústia, desilusões... pois é tudo muito intenso, a expectativa é enorme. É a relação entre o adolescente e o sexo. Quando você amadurece essa paixão, esse sofrimento passa e você passa apenas a curtir o prazer. O ritmo de tudo é mais lento, as expectativas são mais realistas... É muito mais saudável.
Por isso creio que essas são os dois principais significados dessa depuração. Cansei de ver gente ficar maluca por relógios, comprar e gastar a rodo, passar raiva, frustração, sofrer, dar cabeçada de todo tipo, fazer mal negócio pela afobação, e fica nessa até por uns anos e depois some, desaparece... Nunca mais ninguém mais ouve falar do cara nesse meio. É aquele primeiro caso, da fuga e do arrependimento. Normalmente esse tipo de cara nunca se interessou em estudar relógios, história, técnica... nada.
E outros tantos já vi passar pelas mesmas coisas iniciais mas começaram a lentamente se acalmar, encontrar prazer em estudar o assunto, começaram a vender compras irracionais e começaram a comprar coisas melhores e mais bem pensadas, num ritmo muito mais calmo. A primeira reação é pensar que o cara "broxou" com o assunto, mas não, o tempo mostra que apenas amadureceu.
Digo por mim: acho que nunca mais senti aquela sensação de penas bambas na frente de um relógio. Cansei de passar por isso, de olhar para um relógio na minha frente e começar a fazer um milhão de contas por segundo, rodar a coleção toda mentalmente em dois segundos para ver qual relógio poderia dar em troca, sentir o coração batendo rápido, sentir a perna bamba, e tomar a decisão em minutos... E isso pode até parecer gostoso, mas depois da decisão, seguia sempre a angústia: se não comprava, é porque não comprei, e a cabeça continuava a mil. Se comprava, ficava perguntando "será que fiz a coisa certa?", com a cabeça a mil também, naquele misto de felicidade e incerteza. Nunca mais senti isso e não sinto a menor falta. Consigo olhar para o relógio que for hoje, sentir a vontade de tê-lo, pensar com calma por horas ou dias, e simplesmente concluir se dá para comprar ou não, e terminar com uma sensação boa no fim, seja qual a conclusão que eu chegar. Fico contente em concluir que dá para comprar e terminar comprando, como fico tão contente quanto em concluir que não dá para comprar e que fica para a próxima, e que deixei de gastar "X" ou "Y". Esse amadurecimento é infinitamente mais saudável e mais prazeroso.
Não sei se fui pelo menos um pouco claro, mas tentei.
Abraços!
Adriano