Uma pergunta básica: conseguimos fora da AT autorizada (num bom independente por exemplo) garantir vedação adequada num diver?? Contando q ele não tem as juntas? Eh possível garantir com a junta antiga? Eh possível conseguir uma nova “genérica” e esta funcionar a contento??
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Do ponto de vista técnico, a questão é que as juntas têm vida útil. Basicamente, as de elastômeros (borracha, uretano), perdem a elasticidade com o tempo e assim perdem sua capacidade de preencher perfeitamente o espaço que ocupa, e aí ela falha. Mas justamente por serem elásticas, elas são mais fáceis de serem desmontadas e montadas novamente sem problema algum. Elas não rigorosamente descartáveis, de uso único. E pela mesma razão, por serem elásticas, uma diferença micrométrica da dimensão não faz diferença, permitindo uma adaptação. São assim as juntas de fundos rosqueados, coroas, pulsadores e algumas outras. Elas têm que ser elásticas pois precisam resistir à movimentação das peças, e ao mesmo tempo, precisar ser comprimidas para manterem-se no lugar.
Porém, peças fixas, que não se movimentam, como vidros, opta-se por uma junta plástica (hytrel, delrin, nylon, etc.), que tem elasticidade útil muito baixa ou nula. Ou seja, é uma peça que se deforma e não volta à forma original. E já no processo de montagem, ela justamente preenche o espaço entre o vidro e a caixa por se deformar. Por essa razão, essas juntas são de uso único, ou de uso limitado a alguns ciclos rápidos de montagem e desmontagem. Mas justamente por não ter elasticidade, uma vez montada por meses ou anos, ela não volta mais à sua forma original. E pela mesma razão, ela só serve com segurança de manter o vidro fixo e vedar se tiver rigorosamente as dimensões corretas. E para piorar, por serem de secção retangular, estamos falando de mais dimensões envolvidas. Não só diâmetro total e diâmetro da secção importam, mas diâmetro total, largura e altura a seção e eventualmente chanfros que determinam lado de montagem e etc. É uma peça muito mais crítica. É mais arriscada de se reaproveitar após desmontagem, e muito mais complicada de se adaptar.
Posto isso, uma junta pode até vedar se reaproveitada ou adaptada. Tecnicamente isso é plausível. Mas uma coisa é vedar agora. Outra coisa é continuar vedando pelos próximos 12 ou 24 meses (que é a garantia que uma autorizada normalmente dá). Aí entra a parte comercial da coisa: é suicídio garantir e se responsabilizar que uma peça usada ou adaptada funcione perfeitamente pelos próximos 2 anos. Ainda mais porque envolve o risco de um prejuízo muito grande, pois a falha de uma junta pode comprometer mostrador e mecanismo, que são umas das peças mais caras de qualquer relógio.
Em resumo, tecnicamente pode funcionar naquela momento. Isso é uma possibilidade técnica. Mas garantir ou não a longo prazo, é uma decisão comercial/financeira. É um risco. E sem o menor teor de crítica, mas alguns relojoeiros independentes correm esse risco. "Garantem" por meses ou anos a vedação que foi reaproveitada ou adaptada. Mas se falhar, faz como? Garante mesmo e resolve sem custo para o cliente?
A autorizada, ao dar garantia, e mediante uma falha da peça ou serviço, resolve com certeza absoluta, sem custo para o cliente. Não interessa o quanto isso custe internamente. Até isso atende a lei do consumidor. Por isso mesmo, na impossibilidade de trocar todas as juntas por novas e originais, não oferece garantia de vedação.
Mas o independente, pode garantir isso, dessa maneira? Como um independente faz se, por exemplo, entrar água dentro da garantia que ele deu, e perca completamente o mostrador, ponteiros e diversas peças internas, e se bobear a máquina toda, que ele nem tem meios de conseguir avulsos, mesmo que pague? De duas uma, ou ele quebra ao assumir essa conta, ou ele não assume e a conta fica com o consumidor.
Enfim, apenas aspectos técnicos e comerciais da coisa.
Abs.,
Adriano